domingo, 25 de maio de 2008

Songò, Xangô...


SongòXangô, é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores, razão do que de sobra, para ser denominado, Deus da justiça.

Em sua dançá, o alujá , Xangô brande orgulhosamente seu oxé e assim que a cadência se acelera, ele faz um gesto de quem vai pegar num labá (sua bolsa) imaginário, as pedras de raio, e lançá-las sobre a terra.

Texto: Autor Fernando Oli. Perna
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Orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.
 
 
 
 
É o orixá das pedreiras, das terras áridas e das rochas. Seu elemento é o fogo, dominando também o raio e o trovão. O metal a que pertence é o cobre.

Sua ferramenta principal é o Oxé (machado de dois gumes), simbolizando a imparcialidade na hora da justiça.

Machado_medievalOs filhos de Xangô são extremamente enérgicos, autoritários, gostam de exercer influência nas pessoas e dominar a todos, são líderes por natureza, justos honestos e equilibrados, porém quando contrariados, ficam possuídos de ira violenta e incontrolável.

É muito violento, mas nunca gratuitamente. Quando provocado, castiga seus inimigos sem piedade, sendo implacável nas guerras de conquista, atividade que exerce com maestria. Se for necessário, Xangô usa seus poderes de feitiçaria para destruir o inimigo.


XangôComo grande amante da justiça, é imparcial em suas ações, usando toda sua autoridade para resolver as mais difíceis questões, tarefa que ninguém gosta de fazer. Sempre podemos recorrer a ele quando nos defrontarmos com questões litigiosas ou problemas jurídicos.
Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal.

O administrador da justiça nunca poderia olhar apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo ponto de vista sempre. Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores, sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça por ele aplicada.

Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade. Seu raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial, onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente. Seu Axé, portanto está concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de se quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Orixá. Axé de Xangô são as pedras chamadas “Pedras de Raio”, meteoritos que é a força da natureza.

Tudo que se refere a estudos, as demandas judiciais, ao direito, contratos, documentos trancados, pertencem a Xangô.

Xangô_Xangô também gera o poder da política. É monarca por natureza e chamado pelo termo obá (Rei). No dia-a-dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos, lideranças sindicais, associações, movimentos políticos, nas campanhas e partidos políticos, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.

Xangô é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, à vontade de vencer. Também o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de liderança. Para Xangô, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a pena; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.

Xangô é o Orixá da Justiça e seu campo preferencial de atuação é a razão, despertando nos seres o senso de equilíbrio e eqüidade, já que só conscientizando e despertando para os reais valores da vida a evolução se processa num fluir contínuo.

Texto: ...






sábado, 17 de maio de 2008

Ògún, Ogum...



Ogún data de tempos proto-históricos, é pré-histórico, violento e pioneiro; suas armas são primeiras de pedra, depois o ferro. Sua primogenitura converte-o em quase irmão gêmeo de Exú.

Deus da guerra, imagem arquetípica do soldado, Ogún é também o deus do ferro, da metalurgia. Do ferreiro ao cirurgião, todos os que utilizam instrumentos de ferro (e o aço por conseqüência) em seu trabalho:

Agricultores, caçadores, açougueiro, barbeiros, marceneiros, carpinteiros, escultores e outros que juntaram-se ao grupo desde o início do século, mecânicos e motoristas; rendem homenagem à Ogún. Nesse sentido ele é o arquétipo da conquista da civilização humana, consolidada na idade do ferro. Orixá de personalidade violenta, obstinada, constante, viril, disciplinada, quando não rígida.

Na sua estreita relação, com a natureza humana, na qual é o regente dos "caminhos" no seu sentido de trabalho, oportunidades profissionais, e ao mesmo tempo "guardião" da casa.

O número sete é associado a Ogún e ele, é representado nos lugares que lhe são consagrados, por instrumentos de ferro, em número de sete, catorze ou vinte e um, pendurados numa haste horizontal, também de ferro: lança, espada, enxada, torquês, facão, ponta de flecha e enxó, símbolos de suas atividades.


Sua cor é o azul escuro, é o primeiro a ser saudado depois que Exú é "despachado" (ritual que antecede os Xirés - ocasião festiva, que as casas de candomblé, cantam para todos os orixás - que este tipo de exú, na sua forma negativa de maldoso, funcionando também como uma espécie de guardião do ritual, contra outros tipos de espíritos "não iluminados", não perturbe e não deixe, perturbarem o culto). É sempre Ogún que desfila na frente, "abrindo caminho" para os outros orixás (mais uma vez, a indicação da sua função de abrir caminhos), quando eles entram no Ilê nos dias de festa, manifestados e vestidos com suas roupas simbólicas.

Texto: Autor Fernando Oli. Perna.


Orixá da guerra, das batalhas, dos metais, da agricultura, dos caminhos e da tecnologia.

Depois de Exú é o Ogum que está mais próximo dos homens.
Orixá do fogo e do ferro em que são forjados os instrumentos como espada, a faca, a foice, a enxada, a ferradura, a lança, o martelo, a bigorna, a pá, etc.

Ogum é o dono das estradas de ferro e dos caminhos. Protege também as portas de entrada das casas e templos.

Ogum é protetor dos militares, soldados, ferreiros, trabalhadores e agricultores.


Fundamentos:

Senhor deus da guerra, dono do trabalho porque possui todas as ferramentas como seus símbolos. Dono do ferro e do aço. É dono do obé (faca) e por isso vem logo após o Bará, pois sem as facas que lhe pertencem não seriam possíveis os sacrifícios.
 

Escudo_EspadaOs filhos de Ogum possuem um temperamento um tanto violento, são impulsivos, briguentos e custam a perdoar as ofensas dos outros. Não são muitos exigentes na comida, no vestir, nem tampouco na moradia, com raras exceções. São amigos, camaradas, porém estão sempre envolvidos em demandas; divertidos, despertam interesses nas mulheres, mas não se fixam muito a uma só pessoa até realmente encontrarem seu grande amor.



Os filhos de Ogum são pessoas dinâmicas, honestas, responsáveis, procurando sempre fazer o melhor naquilo que lhe é confiado. Pessoas de gênio forte beirando as raias da violência.

Se envolvem facilmente em brigas e demandas, quando são contrariados.

Têm uma forte influência do "Odu Etaogunda".

Neste caminho de Odu (destino), é que nasceram a faca e todos os objetos de ferro. Por isso, Ogum está muito ligado a Etaogunda. Os filhos deste Odu, ou pessoas que estão sob a sua influência, devem agir sempre em conformidade com a justiça. Caso contrário terão dentro de si mesmo o seu maior inimigo. Este é o Odu da justiça."É o grande desafio do comportamento". Não tolera mentira, sendo implacável nestes casos...

É responsável pelas demandas jurídicas, juntamente com Xangô, pois para Ogum a justiça e a retidão são muito importantes. Ele não atua como o juiz que julga o certo e o errado, mas faz prevalecer o que é considerado certo.

Texto: ...

 
 

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Luzbel e Elégbára, Exú...



A Origem do Mal.

Corte Celestial

Havia na Corte Celestial um anjo chamado Lúcifer, também chamado O Anjo Belo, o primeiro dos Querubins possuidor de grandes conhecimentos, o que o distinguia entre os demais anjos da Corte de Deus.

Sucedeu que estranhos sentimentos de orgulho e vaidade começaram a penetrar no coração do Anjo Belo, levando-o a conspirar contra Deus com o propósito de assumir o trono divino.


Não querendo o Pai Celestial eliminá-lo, decidiu expulsá-lo do Paraíso, juntamente com os seus adeptos. Foi desta maneira que milhões de espíritos rebeldes, comandados pelo Anjo Belo, formaram o seu Reino - O Reino das Trevas.

Texto: José Maria Bittencourt



Para os cristãos, o Diabo foi a criação mais perfeita de Deus. Mas, Lúcifer (a estrela da manhã) ou Luzbel (linda luz) se levantou contra o poder de Deus e arrastou um terço dos anjos que habitavam o céu, os quais iniciaram uma árdua batalha contra o Criador, até conseguir sua expulsão do lado d’Ele.
Suas hostes são muito grandes, suas legiões incalculáveis. Todos eles se servem dos mais baixos instintos humanos e são conhecidos como íncubos (demônios homens) e súcubos (demônios mulheres).
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Exú

Exu afroEle é o "Senhor dos Caminhos"; é quem escuta e atende com cuidado e cautela os nossos pedidos, para levá-los até os Orixás maiores, dos quais é o porta voz. Cumprindo esta importante tarefa, alcança luz espiritual, atendendo às mais prementes necessidades ou carências humanas.
Sua especialidade é "abrir os caminhos" (no que se refere a trabalho, profissão, carreira ou meio de vida). Sem ele não se pode iniciar nada no terreno espiritual, já que ele é o mediador entre os homens e os Orixás.

Exú tem uma psicologia muito profunda e, como está em contato íntimo com os homens, trabalha no nosso mesmo plano astral.
Trata-se de uma energia viril, quase maléfica. Muitas estatuetas africanas, feitas de barro ou de madeira talhada (geralmente em ébano), mostram essa característica; isto é, a energia representa a força reprodutora inata do homem.


Pomba-Gira

Pomba- GiraÉ a versão feminina do Exú, isto é, Exú mulher, e tem as mesmas características do Exú homem, mudando ou variando as características viris por conotações específicas do gênero feminino, já que é delicada, sensual, amante da beleza, etc. Também funcionam como intermediárias entre os Orixás e os Homens.
Alegres, divertidas e munidas de um alto poder de sedução, elas cativam só com a sua presença. Quando baixam à Terra, lançam uma gargalhada estridente e musical, como se fosse um grito de liberdade e alegria.

Texto: by Zolrak


As funções de Exú são muitas, e todas de extrema importância para o equilíbrio do universo, como, por exemplo, estabelecer a comunicação entre nós, seres humanos, e o nosso orixá ou protetor particular.

Todos nós temos um Exú, que é individualizado, com suas formas, ou qualidades, bem definidas.
Todos têm Exú, mesmo aqueles que o tratam como demônio. Sem ele, não existiria vida, evolução, movimento, crescimento, dinamismo; enfim, estaríamos completamente estagnados e sem rumo.
Exú é o guardião de todas as passagens, inclusive entre o céu e a Terra, e das porteiras que existem em nosso mundo.

Exú é um orixá que conhece o íntimo do ser humano porque foi criado do mesmo material que nós. Ele sabe tudo o que nós precisamos para viver, como trabalho, dinheiro, moradia, amor, sexo, etc. Ele está intimamente ligado a nós e ao nosso protetor; por isso, em determinadas situações e problemas, nós podemos recorrer diretamente a Exú, para que ele nos abra as portas e limpe nosso caminho dos obstáculos.

Texto: Web page FIETRECA


Exú, Elégbára é um Orixá de múltiplos e contraditórios aspectos, o que o torna muito difícil de defini-lo de maneira coerente. De caráter irascível, ele gosta de suscitar dissensões e disputas, de provocar acidentes e calamidades públicas e privadas. É astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente. Entretanto, Exú possui o seu lado bom e, se ele é tratado com consideração, reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo. Se, pelo contrário, as pessoas esquecerem de lhe oferecer sacrifícios e oferendas, podem esperar todas as catástrofes.

Exú revela-se, talvez, por essa maneira, ser o mais humano dos Orixás, nem completamente bom, nem completamente ruim.
Exú é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. E também ele serve de intermediário entre os homens e os deuses.

Exú pode fazer coisas extraordinárias como as que se exprimem nos seus oríkì, os louvores tradicionais.



“Exú fez o erro virar acerto e o acerto virar erro.”

“É numa peneira que ele transporta o azeite que ele compra no mercado; e o azeite não escorre dessa estranha vasilha.”

“Ele matou o pássaro ontem, com uma pedra que atirou somente hoje. Se ele se zanga, pisa numa pedra e ela põe-se a sangrar.”

“Aborrecido, ele senta-se na pele de uma formiga.”

“Sentado a sua cabeça bate no teto; de pé, não atinge a altura de um fogareiro.”

Texto: Livro Orixás Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Autor: Pierre Fatumbi Verger. 


 
 
 

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Deus, Olorum e Oxalá...

A criação

Os Iorubás eram capazes de perceber muitas coisas que o nosso planeta está mostrando para nós e que não somos capazes de ver. Eles podiam facilmente observar que o mundo está vivo, que tem movimento, e que tudo nele está relacionado. Eles entendiam as influências entre as coisas, e para eles estava claro que nada escapa a uma inteligência superior, que nós procedemos dela e que algum dia voltaremos a ela.

Eles reconheceram na natureza sua excelente mãe e aprenderam a amá-la e a respeitá-la. Eles sabiam que, sem esse amor e respeito, os erros e falhas aconteceriam no conselho energético geral. Isto provocaria todo o tipo de desastres, não só para a vida neste planeta mas também para toda vida em toda parte, vida que está toda interligada. Em seu pensamento religioso e místico, prevalecia a atitude de que tudo é energia, de que o espírito universal é semelhante a ela e que ela é encontrada em toda parte.

Olorum
O antigo povo Iorubá também tinha uma concepção tripartida, uma idéia que para nós se assemelharia à Santíssima Trindade. Eles acreditavam num princípio universal, intocável, inalcançável, quase impossível de conceber por causa do seu grande poder e presença, abraçando todas as coisas, capaz de fundir todas elas em si mesmo. Chamavam esta energia de Olodumaré, Olorum (o princípio dos princípios) gerado por três partes, essências ou energias isoladas, que recebiam os nomes de Nzame, Baba Nkwa e Olofi.

Este princípio criou o Universo e tudo o que nele existe – mas era necessário haver uma certa forma de existência formada da mesma matéria que governaria o planeta Terra. Tomando essa mesma densidade de energia, eles criaram o primeiro homem e lhe deram liberdade, inteligência e perfeição física. Eles o chamaram de Omo Oba. Orgulhando-se dos seus próprios atributos, o homem perdeu sua luz espiritual e parou de vibrar na mesma intensidade da fonte criadora. A partir desse momento, portanto, ele viveu no interior da Terra.

Orum, o outro mundo, é regido por Olodumaré, também chamado Eleda, Olorum, Odumaré ou Eleemi, criador de tudo. Ele fornece energia para todos os seres vivos, insuflando a força de tudo o que existe e regendo todo o Cosmos desde o Hemisfério Superior.
Ayê, o Mundo das coisas vivas, é ligado a Orum, por algumas vezes receber dos Mundos Eternos e Superior toda sorte de comunicação possível.

by Zolrak.


Oxalufã
Oxalá – Oxalufã e Oxaguiã ou
Adjagunã – o maior de todos os
orixás, tradição religiosa da maior
importância entre os cultos
africanos. Apresenta-se, ora como o
velho Oxalufã, alquebrado, friorento,
trôpego, apoiando ao seu bastão
(paxorô), ora como o novo, o moço
 Oxaguiã, desempenado, altivo, guerreiro, empunhando a espada e um pilão de metal branco de duas bocas. É conhecido como Oulissa dos geges, Cassumbecá em Angola e Ganga-zumba dos Cambindas.


OxaguianSua festa maior, em todas as casas de culto, levam o nome de “As águas de Oxalá” que é o início do ano litúrgico nas tradições culto e cultura dos orixás, esta tradição tem mais de cinco mil anos A.C., revivescência da tradição africana da viagem de Oxalá ao reino de seu filho Xangô. Na África é chamado de Obatalá (Senhor da Roupa Branca).

Aqui entre nós foi chamado de Orixalá (orixá-nlá, orixá maior) e depois, pela forma sincopada de Oxalá. Simboliza “um elemento fundamental do começo dos começos”, massa de água e massa de ar, um dos elementos que deram origem a novas formas de existência – a protoforma e a formação de todos os tipos de criaturas, na terra (ayê) ou no céu (orun).

Os vivos e os mortos, os dois planos da existência, são controlados pelo axé de Orixalá. O alá, grande pano branco, é o seu emblema e embaixo dele é que abriga a vida e a morte. Um dos ritos do círculo litúrgico de Oxalá consiste em estender um longo pano imaculado, sustentado por cima das cabeças dos participantes, que caminham cantando e dançando numa procissão ritual. O gesto simboliza o ato através do qual seus filhos se colocam sob a proteção do grande orixá funfun (orixá branco). Ele está associado à calma, à unidade, ao repouso ao silêncio, à paz, tranqüilidade e amor.

Texto: Mãe Sylvia de Oxalá.


quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sta Sara e Outras Versões...


Vamos voltar há dois mil anos... ou mais, muito mais... Se
quiserem podemos retroagir 5000 anos e chegaremos aos ciganos que ajudaram a construir as pirâmides do Egito.
Porém, fiquemos nos tempos do Cristo.

Estava Jesus em pleno ministério sempre acompanhado por Maria Madalena, aquela que seria a discípula bem-amada. É daquela época que extraímos a mais bela lenda do povo cigano. Mas, antes falaremos de religiosidade dos ciganos, de maneira geral, que é incontestável. Os ciganos crêem em Deus (Devel) e na entidade do mal (Beng). Fazem grandes peregrinações em 24/25 de maio a Saintes-maries-de-la-mer (França), em honra a santa Sara. No Brasil, além de Santa Sara, são devotos de N. Sra. Aparecida, são Jorge e outros santos, isto, se forem católicos. Ressaltamos que os ciganos adotam a religião do país que os acolhe.

No Brasil temos ciganos católicos, evangélicos, testemunhas de Jeová, protestantes, espíritas, adventistas, umbandistas e outras religiões/seitas. No mundo, encontramos ciganos na religião católica ortodoxa, muçulmanos, budistas, hindus etc. e são sinceros na crença que adotam.

São muitas as lendas que dizem ter Maria Madalena viajado à França (ou Gália na época) depois da crucificação de Jesus, acompanhada por um variado grupo de pessoas que inclui uma jovem serva negra chamada Sara, Maria Salomé e Maria Jacobina — supostamente tias de Jesus — além de José de Arimatéia, o rico proprietário do sepulcro onde Jesus foi colocado, antes da ressurreição, e São Maximino, um dos setenta e dois discípulos mais próximos de Jesus e primeiro bispo de Provença. Embora os detalhes da narrativa variem de versão para versão, parece que Madalena e seu séqüito foram obrigados a fugir da Palestina em condições mais que precárias [...]


Reza a lenda que eles desembarcaram (sem dúvida, muito agradecidos, depois de vagarem por águas salgadas durante semanas) no que hoje é a cidade de Saintes-maries-de-la-mer, nas terras úmidas da Camargue, onde o Ródano deságua no Mediterrâneo. As três Marias — Maria Madalena, Maria Jacobina e Maria Salomé — são objeto de grande veneração na igreja que se ergue dos charcos circundantes como uma imponente vela de navio, ao passo que na cripta há um altar dedicado a Sara, a egípcia, a pequena serva negra de Maria Madalena, hoje a venerada santa padroeira dos ciganos, que afluem à cidade no feriado de 24/25 de maio, quando milhares de fiéis devotados conduzem a estátua de Sara até o mar, para sua imersão cerimonial.

O fato de a tradição medieval considerar os ciganos originários do Egito — egypsies — confere sentido à sua veneração pela menina egípcia Sara...
As lendas têm muitas versões, por isso são lendas, ficamos com uma adaptação que seria a seguinte: Maria Madalena era o cálice sagrado (Santo Graal), porque trazia em seu ventre o sangue real, a semente de Jesus. Ela teria passado alguns anos em Alexandria, no Egito e Sara seria sua filha e de Jesus (portanto, Sara não era serva das Marias), constituindo-se na linhagem sagrada. Maria Madalena, por motivo desconhecido (perseguição talvez) fugiu para a Gália com Sara e José de Arimatéia. Lá foram acolhidos pelos ciganos. Sara é venerada pelos ciganos, até porque Madalena, sua mãe, também é conhecida por Madalena Egipcíaca. Isto faz sentido; os ciganos seriam os verdadeiros guardiões da linhagem sagrada através de veneração à santa Sara: a santa das santas.


Curioso é o fato de que a igreja não relaciona santa Sara em sua hagiografia. Por quê? Que nos respondam os que sabem!
Encontramos em um livro, às vezes muito elogiado, outras vezes criticado sem piedade, texto que nos conta algo que até agora desconhecíamos sobre o Mestre Jesus. Está no livro O código da Vinci, de Dan Brown, editora Sextante, 2004. extraímos este diálogo entre os três personagens principais do livro: Langdon, Teabing e Shofie:

O importante aqui — disse Langdon, voltando à estante — é que todos estes livros apóiam a mesma premissa histórica.
— Que Jesus foi pai — Sophie ainda estava insegura.
É — disse Teabing. — E que Maria Madalena foi o ventre que transmitiu sua linhagem sagrada. O Priorado de Sião, até hoje, ainda venera Maria Madalena como a Deusa, o Santo Graal, a Rosa e a Divina Mãe.
Sophie voltou a visualizar rapidamente o ritual do porão.
De acordo com o Priorado — continuou Teabing — , Maria Madalena estava grávida quando Jesus foi crucificado. Para segurança do filho ainda não nascido de Cristo, ela não teve escolha senão fugir da Terra Santa. Com ajuda do tio em que Jesus tinha grande confiança, José de Arimatéia, Maria Madalena secretamente viajou para a França, que na época era conhecida como Gália. Ali encontrou refúgio seguro na comunidade judaica. Foi na França que deu à luz uma filha. O nome dela era Sara....

Notamos pois muitas semelhanças entre as lendas, ora Sara nasceu no Egito, ora na França, ora foi acompanhante das Marias. Então não vamos discutir mais: Sara existiu e foi o fruto da união de Jesus e Madalena. Os ciganos, não só são muito religiosos, como também são a fonte de inspiração para os poetas, e eles têm Deus no coração e só eles podem expressar tanta religiosidade.




E JESUS FOI MAIOR DOS CIGANOS.

jesus_pastorTemos por certo que Jesus foi o maior dos ciganos. Afinal era um pobre galileu sem eira nem beira, andava descalço, como os ciganos, não tinha casa, como os ciganos, não tinha terra, como os ciganos, nem se agarrava aos valores materiais, como os zíngaros não se agarram. O quê fez Jesus dos treze aos trinta anos?

Viajou à Índia para aprender com os budistas. E quê fez dos trinta e um aos trinta e três?

 Perambulou pela Palestina, pregando a boa-nova, fazendo milagres e dormindo ao relento. Foi Ele quem disse:

“As raposas têm covas e as aves ninhos, porém, o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.” (Mt 8,20). Foi o papa Paulo VI que relembrou esta passagem bíblica citando-a perante 2.500 ciganos e complementando:
“Vede como Jesus era semelhante a vós. Como está próximo de vós!” E ainda na Bíblia lemos:

“Eu tive fome e me deste o que comer, eu tive sede e me deste de beber”. Eu gostaria de saber quais os cristãos que deram de ‘comer’ e ‘beber’ a um cigano!? Que Jesus era nômade não padece dúvida, pois está em várias passagens da Bíblia. Vejam esta:

 “Jesus percorria toda Galiléia, ensinando nas sinagogas o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e enfermidades entre o povo... Grande multidão o acompanhava da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e dos países do outro lado do rio Jordão” (Mt 4-25). [....] “E andava por todas as cidades e aldeias” (Mt 9-35). Ele usava apenas uma túnica e que foi sorteada entre os soldados no Gólgota. Tão pobre como a maioria dos ciganos no mundo.

Jesus, Maria Madalena e Sara foram o maior legado dos ciganos à humanidade.

Há uma versão creditada a Jean-Paul Clébert, em seu livro The gypsies, p. 141, que aborda a existência de outra Sara: Sara the Kâli. E diz assim:

A Sara dos ciganos por outro lado, vivia às margens do Ródano com sua tribo e saudou as três Marias quando elas desembarcaram. Nosso povo recebeu a primeira Revelação de Sara a Kâli. Ela era de nobre nascimento e chefe da tribo às margens do Ródano. Ela sabia dos segredos que a ela tinham sido transmitidos. Perto do Ródano as tribos trabalhavam metais e comerciavam. O Cigano naquele tempo praticava religião politeísta e uma vez ao ano eles levavam em seus ombros a estátua de Astarté [divindade sideral feminina] em procissão ao mar onde recebiam suas benções. Um dia, Sara vira a chegada do bote com as Marias. O mar estava revolto e o bote ameaça afundar. Sara jogou seu vestido nas ondas, e usando-o como uma jangada, foi às santas e ajudou-as a ir à terra.

As santas batizaram Sara e elevaram suas preces pedindo pelos gadjês e pelos rom.
A veneração dos ciganos por Sara é extremamente interessante, especialmente porque é uma das poucas atividades deles, nas quais o não-cigano pode facilmente estar presente. Depois de 1912, somente os ciganos tinham o direito de penetrar na cripta. Eles passavam a noite lá, e faziam vigília, para não falhar com o mistério, particularmente aos olhos do santo padre que no ano estava presente. É sabido que a cripta, usualmente inundada com água de nascente, dá guarida a três elementos: à esquerda de quem entra, há o altar, (um altar pagão); no centro, há o altar cristão (do séc. III); e à direita há a estátua (ícone) de Santa Sara. É muito antiga. A estátua atual foi obviamente pintada de preto. Se limpidez aparece em sua face é porque é continuamente tocada e retocada.

Durante a vigília, os ciganos não mais praticam ritos especiais. Eles se satisfazem em manter observação, usualmente descalços e cabeça descoberta. Alguns deles cochilam ou dormem ao longo das paredes. Aqueles que chegam, devotos de Sara, fazem o ritual em dois atos: o toque e ornando-a com flores, pondo-lhe rendas, véus, jóias talismãs; pendurando roupas ou trajes (capas, mantos, lenços etc.). As mulheres particularmente, respeitosamente tocam a estátua e beijam as franjas dos seus vestidos. Então dependuram ao lado dela, roupas que trouxeram desde mantilhas de seda, corpetes, bustiê etc. Algumas vezes, somente pedaços de pano. Finalmente, eles tocam a santa com uma miscelânea de objetos representando os ausentes ou doentes (fotos, medalhas... ou ainda itens de roupas). E acendem velas, círios, produzindo intensa luz e calor.

velasA segunda parte da peregrinação cigana consiste na procissão ao mar e simbólica imersão, comum a todos os cultos da grande deusa da fecundidade. A magia da imersão induz a chuva. Claramente, obter chuva é menos importante para os nômades do que para os sedentários e casados. É evidente que a simbólica imersão de Saintes-maries-de-la-mer não mais pretende fazer chover. O ritual da fecundidade tornou-se uma bênção do mar por uma sutil adaptação da igreja. Os ciganos seguem esta transformação. Mas nesta evolução, eles conservaram o arquétipo da deusa-mãe e da virgem negra.

Do mundo inteiro vêm turistas e ciganos à cripta de Sara. A festa, como toda festa de origem católica, é religiosa e profana.

Há procissões, há orações e muita música, pelotiqueiros, buena-dicha, comidas típicas, danças, na parte profana propriamente dita. Mas vamos ver um pouco de história que é essencial para a famosa peregrinação a Saintes-Maries-de-la Mer. Dias 24 e 25 de maio, todos os anos os ciganos tornaram-se costumeiros na peregrinação católica. Realmente, há uma igreja erigida em comemoração à chegada das três marias, depois de o rei René[1] ter ordenado uma investigação sobre o assunto.

Velhíssima tradição registra o tal desembarque das três marias, mas não há certeza em qual lugar desceram a terra: o lugar já mencionado, com o qual estamos lidando, foi sucessivamente chamado Nossa Senhora de Ratis, de três marias, e Sainte-Marie-de-la-Barque; ratis poderia significar ‘ilha de madeira’. A escavação ordenada pelo rei René foi bem sucedida, debaixo do coro da igreja primitiva (a data em que ela foi construída é desconhecida) foram encontradas as supostas relíquias das santas. E a peregrinação tem sido registrada desde o século XV e cada vez mais florescente. A aparição de Sara se deu um pouco mais tarde e no texto Autor do fim da vida de M. Olier encontra-se esta frase: ‘Em uma arca de bronze foram depois encontradas... ossadas humanas que se acreditou ser de Sara, acompanhante das sagradas marias.’ Em 1521, Vicente Phillipon, em sua piedosa novela A lenda das santas Marias Jacobé e Salomé, registra a presença de Sara, minimizando seu papel dizendo ser apenas a serva. Ela viajara através de Camargue pedindo donativos. Dia 24 de maio foi escolhido para honrar as santas, e ciganos (presentes em Arles desde 1438) juntaram-se aos peregrinos. Mas de início não a reconheceram como Sara-a Kâli. Isto só se deu em 1496. A idéia de serva das marias foi uma idéia ecumênica. O nome dado pelos ciganos a Sara — A Kâli — significa na linguagem dos rom ora ‘mulher negra’, ora mulher cigana. Sara, na igreja pode ser a mulher de Abraão que traz em si a idéia da mãe-deusa, bem como pode ser Sari do Cáucaso, o mesmo povo que deu o nome bíblico de Sara.

Se Santa Sara veio no barco com as três Marias, se estava na praia esperando por elas e as salvando, se era serva de Madalena, ou segundo outros, era sua filha e de Jesus. Também se Sara relembra a mulher de Abrão ou uma egipcíaca; tudo isto, esta confusão de lendas, só atrai mais e mais fiéis e admiradores e à festa em Saintes-Maries-de-la-mer, que só cresce ano a ano. Ciganos de toda Europa (e do Brasil) vão anualmente à Camargue, França, à igreja das santas mencionadas, para celebrar a festa de sua rainha. A cripta e a santa, no dia da festa são clarificadas por milhares de velas, acendidas pelos nômades, e postas por eles ou por eles carregadas. O calor é intenso e a alegria também. A música é maravilhosa. A procissão em direção ao mar é festiva e religiosa. Eles chamam a cripta de o ventre da mãe Sara, e a chamam de Kâli-Sara, em analogia à deusa-mãe da sua terra natal, a Índia. Sara, é conhecida como a mãe sábia, que guarda conhecimentos secretos. As mulheres ciganas têm especial encantamento por Sara e parecem receber retribuição por isto, muitas bênçãos são atestadas. Sara está coroada e vestida com todos os atavios que os ciganos e ciganas lhes oferecem, e são tantos, que são constantemente trocados: jóias, lenços, mantos, véus e muito mais.

Os devotos acariciam sua face, beijam a fímbria dos seus vestidos e colocam flores em sua volta. Cartas postas a sua volta atestam os milagres recebidos, muletas de criança encontram-se ao lado da rocha.

Quando o culto a Santa Sara veio para o Brasil, ainda é matéria controversa. Quem trouxe? É mais controverso ainda... Entretanto, podemos afirmar, sem medo de errar, que é da década de 60. Mirian Stanescon (princesa dos ciganos, assim ela se diz), conseguiu, após negociação pertinaz, com a Prefeitura do Rio de Janeiro, a concessão de uma gruta, no Arpoador, Rio de Janeiro, onde pôde entronizar ou fazer assentamento, para culto reverencial (de ciganos e gadjês), sendo que a imagem de Santa Sara, por tradição, deve ficar com a face virada para o mar ou, no mínimo, próximo a ele, e isto foi atendido.
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[1] (Renato) I O Bom (Angers 1409-Aix-em-Provence 1480). Duque de Anjou, conde de Provence, duque efetivo de Bar, duque de Lorena, rei de Nápoles, titular da Sicília, rei nominal de Jerusalem.

Texto: Assede Paiva.


sábado, 12 de abril de 2008

Sta Sara Kalí

Sara Kali
A história dela remonta ao início do cristianismo. Os primeiros cristãos eram perseguidos pelos romanos e Sara, uma escrava egípcia de propriedade de José de Arimatéia, foi capturada juntamente com as três Marias (Maria Madalena, Maria Salomé, Maria Jacobé).

As quatro mulheres foram colocadas em um barco que foi lançado ao oceano, sem remos e sem provisão. Desesperadas, as três Marias puseram-se a orar e a chorar. Aí então Sara retira o diklô (lenço) da cabeça, chama por Kristesko (Jesus Cristo) e promete que se todos se salvassem ela seria escrava de Jesus, e jamais andaria com a cabeça descoberta em sinal de respeito.

Por um milagre, após 30 dias vagando sem rumo pelo mar, à mercê de todas as intempéries, atravessou o oceano o barco e aportou em Laguendoc, no sul da França, na ilha de Camargue, um local que seria conhecido mais tarde como Saintes-Maries-de-La-Mer (traduzindo Santas Marias que vieram do mar). Um grupo de ciganos que vivia por ali socorreu as quatro mulheres e elas em troca, trazendo para eles a doutrina cristã.

Após a partida das chamadas "Três Marias", conta a hitória que Sara continuou convivendo com os ciganos e passou a ser chamada Sara Kalí, a palavra Kalí significa "negra" na língua romanê.

Sara cumpriu a promessa até o final dos seus dias. Sua história e milagres a fez padroeira universal do povo cigano, sendo festejada todos os anos no dia 24 de maio.

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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Os Orixás

Xirê Orixás
Nas línguas ocidentais, nós os chamamos de santos; mas uma tradução mais exata do termo Iorubá seria "ser sobrenatural", "ser sobre-humano", algo que está mais elevado, sagrado, poderoso, extraterreno. As raízes dos Orixás se perderam no tempo.
Poderíamos dizer que a humanidade da pré-história já os adorava, talvez sem saber, talvez não de modo conveniente ou apropriado; mas dentro deles havia esse conhecimento como meio de sobrevivência.

O Orixá é pura energia, energia que se desprende de uma energia superior, que criou todas as coisas; o Orixá é a energia de Deus ou a sua criação na Terra. Assim, por exemplo, Iemanjá é o Orixá das águas salgadas, do mar, e é a energia ou força vital deste elemento da natureza. Quando um filho (a) de santo é possuído pela energia do seu santo ou Orixá, uma milionésima partícula dessa energia penetra na sua cabeça. Esse é o motivo pelo qual dois médiuns podem incorporar o mesmo Orixá no mesmo lugar e ao mesmo tempo; eles só recebem uma porção muito pequena da energia e, mesmo que todas as pessoas da Terra pudessem incorporar seus diferentes santos ao mesmo tempo, a energia de Deus é inexaurível porque ele é o criador sem ter sido criado.

Nós temos os nossos santos protetores, ou os nossos líderes guardiões, anjos da guarda ou líderes espirituais; e nós estamos ligados a eles, vibrando em uníssono quando nossos pensamentos são limpos, visto que a nossa composição física inclui partículas espirituais que pertencem a um determinado Orixá.

De acordo com o nosso estágio de desenvolvimento espiritual, somos designados para um certo guia, que imprime sua marca na nossa natureza e personalidade e muitas vezes pode nos dar um arquétipo físico com determinado traços fisionômicos e corporais.

Para os africanos, Deus é Olorum, onipresente, onipotente e onisciente, e ele não tem imagens. Os sacerdotes o têm como um santo ou Orixá (lembre-se de que os Orixás são todos o efeito de uma grande causa: Deus). Ele não tem templos, uma vez que está presente em todos os templos, em todos os sacerdotes, no devoto e no crente; e porque ele é energia pura, não tem uma forma definida.
 


Seu representante na Terra é Oxalá ou Obatalá, que reina ou governa sobre todos os outros Orixás e sobre o planeta Terra.
 

 Deus, o início, o meio e o fim. - Platão

by Zolrak.  


 





sábado, 5 de abril de 2008

A Justiça Divina

Just
O homem costuma avaliar os acontecimentos da vida como castigos divinos. A maioria das pessoas acredita que o ser humano é pecador, e que seus pecados redundam em castigos por parte de Deus.

Essa maneira de pensar foi herdada da maneira equivocada de como as religiões abordam o assunto. A interpretação bíblica do paraíso perdido, do pecado cometido por Adão e Eva, da influência da cobra e da expulsão do casal do Eden e sua conseqüente vida de trabalho, considerando-se como um mal o suor do homem na busca de seu sustento, criou nas pessoas a falsa idéia de que o homem tem que sofrer e que ele é um pecador que deve ser punido pelo seu pecado.

Outra conseqüência desse erro é se acreditar que Deus é cruel e vingativo, e que ele castiga aos seus filhos. Erro maior ainda é o de se considerar esse castigo eterno em local destinado ao suplício dos pecadores, por toda a eternidade.

O Espiritismo nos dá uma outra visão. O homem não é um pecador, é um espírito criado simples e ignorante, destinado a alcançar, por seu próprio esforço, a plenitude, a perfeição, a felicidade. Deus criou a todos iguais, sem privilégios para ninguém, e dotou o homem do livre-arbítrio para que cada um possa caminhar com inteira liberdade de ação e aprender com o próprio erro. Estabeleceu normas e bases corretas, e uma lei de reajuste automático denominada Lei de Causa e Efeito.

A Lei de Causa e Efeito é complemento necessário à Lei de Justiça, de Amor e de Caridade. Por ela o homem vai se depurando, evoluindo, corrigindo os erros, até conseguir, mercê de seu próprio esforço, alcançar a perfeição e a conseqüente felicidade.

A Lei de Causa e Efeito é também chamada Lei de Ação e de Reação. É uma lei automática, ou seja, já tem embutida em si mesma os efeitos decorrentes de nossos atos. Atos bons trazem como conseqüência efeitos bons. Atos maus, efeitos maus. Assim, quem planta ventos colhe tempestades. Quem planta amor colhe amor. A semeadura é livre, a colheita é obrigatória. Todos, absolutamente todos, colherão sempre apenas e tão somente o que plantarem. Ninguém poderá colher maçãs se plantou bananas.

O homem, no início simples e ignorante, vai agindo e ampliando o seu livre-arbítrio à medida que evolui e adquire mais conhecimentos. Ele erra, porque não conhece. Com as conseqüências de seu erro, ele aprende, e quando aprende não erra mais.

Há uma diferença fundamental entre o erro e o pecado. Erro é conseqüência de desconhecimento, de imaturidade, de falta de calma, de falta de melhor estrutura. É o caso das crianças, que em sua aprendizagem sofrem muitas vezes efeitos de seus atos imaturos e imprecisos, até que, já adultos, sorriem ao verificar quanta coisa tiveram de passar por sua própria culpa. Muita gente costuma dizer: "se eu tivesse, quando mais moço, a experiência que tenho hoje, como as coisas teriam sido diferentes."

Pecado, segundo o Dicionário Caldas Aulete, é a transgressão de uma lei religiosa ou dos preceitos da Igreja. Segundo o mesmo dicionário, todos nós que somos espíritas e que não seguimos os preceitos da Igreja e suas leis, somos pecadores.

Para nós, Deus é a suprema perfeição, causa primária de todas as coisas. Deus é infinitamente bom e justo e não castiga os seus filhos, que não pediram para ser criados e se são ainda imperfeitos e cheios de falhas e erros, são porque foram feitos assim por ele.

Deus nos criou para a felicidade, não para o sofrimento. É um erro supor que a Terra será sempre um vale de lágrimas. Ela, hoje, ainda planeta de expiação e de provas, abriga em seu seio espíritos muito imperfeitos, e a situação caótica do mundo nada mais é que a colheita coletiva que estamos fazendo dos atos repletos de egoísmo e de desamor que temos feito ao longo de nossa grande caminhada pela fieira das reencarnações. Mas um dia, com toda a certeza, aprenderemos com os nossos próprios erros, e colocaremos em nossos corações o evangelho de Jesus. Aprendendo a nos amar, e colocando esse amor na frente de todos os nossos atos, mudaremos o mundo e construiremos aqui na Terra um planeta maravilhoso, habitável, fraterno, saudável e feliz. Somos os construtores de nosso destino. Por enquanto, é um destino muito feio, calcado no egoísmo, no orgulho, na prepotência. Mas as conseqüências de nossos erros guardam em si mesmos o remédio para nossos males, e nos impulsionam a mudar, a modificar nossa vida, nossos hábitos, nosso modo de agir.

Um velho carpinteiro estava para se aposentar. Contou a seu chefe os planos de largar o serviço de carpintaria e de construção de casas para viver uma vida mais calma com sua família. Claro que sentiria falta do pagamento mensal, mas necessitava da aposentadoria.

O dono da empresa sentiu em saber que perderia um de seus melhores empregados e pediu a ele que construísse uma última casa como um favor especial.

O carpinteiro consentiu, mas, com o tempo, era fácil ver que seus pensamentos e seu coração não estavam no trabalho. Ele não se empenhou no serviço e utilizou mão de obra e matérias primas de qualidade inferior.

Foi uma maneira lamentável de encerrar sua carreira.
Quando o carpinteiro terminou o trabalho, o construtor veio inspecionar a casa e entregou a chave da porta ao carpinteiro:

"Esta é a sua casa", ele disse, "meu presente para você."

Que choque! Que vergonha! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito completamente diferente, não teria sido tão relaxado. Agora iria morar numa casa feita de qualquer maneira. Assim acontece conosco. Construímos nossas vidas de maneira distraída, reagindo mais que agindo, desejando colocar menos do que o melhor. Nos assuntos importantes não empenhamos nosso melhor esforço. Então, em choque, olhamos para a situação que criamos e vemos que estamos morando na casa que construímos. Se soubéssemos disso, teríamos feito diferente. Pense em você como o carpinteiro. Pense sobre sua casa. Cada dia você martela um prego novo, coloca uma armação ou levanta uma parede. Construa sabiamente. É a única vida que você construirá. Mesmo que tenha somente mais um dia de vida, esse dia merece ser vivido graciosamente e com dignidade. Na placa da parede está escrito:

"A vida é um projeto “faça você mesmo."

Quem poderia dizer isso mais claramente?

"Sua vida de hoje é o resultado de suas atitudes e escolhas feitas no passado."

"Sua vida de amanhã será o resultado das atitudes e escolhas que fizer hoje."

O episódio acima nos dá a idéia exata de que a justiça divina, que, como diz o povo, não falha, é centrada em nossos próprios atos. Nós plantamos, e nós colhemos. Deus não irá nos castigar porque erramos. Nós sim, colhendo o resultado do que plantamos, vamos nos melhorando, nos aperfeiçoando, até podermos alcançar nosso objetivo, que é a felicidade e a perfeição.

Texto: Ary Brasil Marques