sexta-feira, 20 de junho de 2008

Yemanjá, Iemanjá...

Iemanjá

A majestade dos mares, senhora dos oceanos, sereia sagrada, Yemanjá é a rainha das águas salgadas, regente absoluta dos lares, protetora da família.

Chamada também de Deusa das Pérolas, é aquela que apara a cabeça dos bebês no momento de nascimento.

Em Yorubá o nome Yemanjá significa a mãe dos filhos-peixe.

Yemanjá tem seus domínios nas profundezas das águas, de onde emerge para atender seus devotos, principalmente as mulheres que atribuem a elas poderes que favorecem a fertilidade e a fecundidade. É maternal, sempre pronta para amamentar as crianças sob seu domínio.

É ela que proporcionará boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo do seu reino. É ela quem controla as marés, a praia em ressaca, a onda do mar, o maremoto. Protege a vida marinha. Junta-se ao orixá Oxalá complementando-o como o Princípio Gerador Feminino.
                          
Essa força da natureza também tem papel muito importante em nossas vidas, pois é ela que rege nossos lares, nossas casas. É ela que dá o sentido da família às pessoas que vivem debaixo de um mesmo teto. Ela é a geradora do sentimento de amor ao seu ente querido, que vai dar sentido e personalidade ao grupo formado por pai, mãe e filhos tornando-os coesos. Rege as uniões, os aniversários, as festas de casamento, todas as comemorações familiares. É o sentido da união por laços consangüíneos ou não.


Um de seus enfeites e atributos é o abebé (leque), podendo ser de metal prateado ou prata (o seu metal), ou de qualquer outro material que tenha suas cores e emblemas. Também sabe ser delicada, mantendo-se de espada em punho para defender seus filhos.

YemanjáNuma casa de santo, Yemanjá atua dando sentido ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependência; proporcionando sentimento de irmão para irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; proporcionando também o sentimento de pai para filho ou de mãe para filho e vice-versa, nos casos de relacionamento dos Babalorixás (Pais no Santo) ou Ialorixás (Mães no Santo) com os Filhos no Santo. A necessidade de saber se aquele que amamos estão bem, a dor pela preocupação, é uma regência de Yemanjá, que não vai deixar morrer dentro de nós o sentido de amor ao próximo, principalmente em se tratando de um filho, filha, pai, mãe, outro parente ou amigo muito querido. É a preocupação e o desejo de ver aquele que amamos a salvo, sem problemas, é a manutenção da harmonia do lar.

Pelo fato de Yemanjá ser a Criação, sua filha normalmente tem um tipo muito maternal. Aquela que transmite a todos a bondade, confiança, grande conselheira. É mãe. Sempre tem os braços abertos para acolher junto de si todos aqueles que a procuram. A porta de sua casa sempre está aberta para todos, e gosta de tutelar pessoas. Tipo a grande mãe. Aquela mulher amorosa que sempre junta os filhos dos outros com os seus.

O homem filho de Yemanjá carrega o mesmo temperamento: é o protetor. Cuida de seus tutelados com muito amor. Geralmente é calmo e tranqüilo, exceto quando sente-se ameaçado na perda de seus filhos, isto porque não divide isto com ninguém. É sempre discreto e de muito bom gosto. Veste-se com muito capricho. É franco e não admite a mentira. Normalmente fica zangado quando ofendido e o que tem como ajuntó o orixá Ogum, torna-se muito agressivo e radical. Diferente é quando o ajuntó é Oxóssi, aí sim, é pessoa calma, tranqüila, e sempre reage com muita tolerância.


YemonjáO maior defeito do filho de Yemanjá é o ciúme. É extremamente ciumento com tudo que é seu, principalmente das coisas que estão sob sua guarda. Gostam de viver num ambiente confortável e, mesmo quando pobres, pode-se notar uma certa sofisticação em suas casas, se comparadas com as demais da comunidade de que fazem parte.

Nos apresentam uma figura um pouco rígida, refratária a mudanças, apreciadora do cotidiano. Ao mesmo tempo, indicam alguém doce, carinhoso, sentimentalmente envolvente e com grande capacidade de empatia com os problemas e sentimentos dos outros. Mas nem tudo são qualidades em Yemanjá, como em nenhum Orixá. Seu caráter pode levar o filho desse Orixá a ter uma tendência a tentar concertar a vida dos que o cercam - o destino de todos estariam sob sua responsabilidade. Gostam de testar as pessoas.
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Orixá das águas salgadas, pela concepção da vida e fertilidade.


OdoyáAs mulheres desse orixá assumem a condição de dona do lar, mãe e mulher. Como mães, sabem cuidar muito bem de sua prole, em todos os sentidos, preocupando-se com a saúde, higiene, aprendizado, educação e alimentação. Geralmente, são muito severas e, às vezes, cometem alguns exageros nesses cuidados. Elas não descansam enquanto tudo não estiver dentro dos padrões estabelecidos por elas próprias.

São perfeccionistas em tudo que fazem, e não gostam das coisas malfeitas. Adoram limpeza e organização, sempre conferindo se o serviço foi bem feito, caso elas mesmas não possam assumir as tarefas do lar. Mesmo trabalhando fora, não descuidam de sua casa e do bem estar de sua família, que geralmente é numerosa.

Não gostam da solidão, por isso dão muito valor à sua vida familiar, sendo muito carinhosas com seus entes queridos. Mesmo que, às vezes, ajam com austeridade, elas estão única e exclusivamente pensando no bem-estar de todos. Freqüentemente, esquecem de si próprias, de seus anseios e necessidades, para trabalhar em prol da felicidade dos que ama. Tendem a ser a mãe de todos que as cercam.

Os filhos de Yemonjá assumem muitas responsabilidades, encarando os problemas com inteligência e sempre encontrando a melhor solução. Adoram mandar, por isso têm a fama de autoritários.

São pessoas muito confiáveis e competentes no que fazem. Sem muitas ambições, preferem viver bem e com segurança o seu dia a dia, do que sonhar acordado. A força e a determinação são traços marcantes de sua personalidade, assim como a amizade e o companheirismo.

São discretos e capazes de fazer chantagens emocionais, mas nunca diabólicas. Demoram muito para confiar em alguém, pois não gostam de ser apunhalados pelas costas. Embora possuam grande capacidade de perdoar, nunca esquecem o que lhe fazem, tanto de bom, quanto de ruim.

Texto: web page FIETRECA


Yemanjá, traz o equilíbrio da cabeça é a dona do ori.
 
É a mãe de tudo que existe na face da terra, quando as pessoas têm vícios ou estão com stress peça a Yemanjá para trazer o equilíbrio físico, mental e espiritual para essa pessoa.

Texto: Informativo Axé Ilê Obá










Mermaid

terça-feira, 3 de junho de 2008

Yansã, Iansã, Oyá...

Iansã

Agilidade e destreza em pleno movimento, ela é o Orixá do vento além de ser o Orixá das tempestades e do raio. Carrega uma espada, já que é uma guerreira. O cobre, metal que lhe pertence; outra de suas ferramentas em forma de espanador, feita de crina de cavalo que serve para espantar os egunes (espíritos dos mortos), cuja denominação é iruexim.

Iansã ou Oiá, é temperamental e com certo “ar” – é válida a redundância – de leviandade em seus critérios. Ela não se sujeita a rótulos, não é estereotipada, nem gosta de limitações nem de parâmetros, tal qual o elemento que preside. Como o vento que ela preside é lutadora incansável (como se injetasse em si mesma a energia do raio); incontível, como tudo o que representa, esbanja alegria e sensualidade.

Seu passo e dança são bem marcados, triunfantes, marciais, rápidos e “cintilantes”.

Texto: by Zolrak

Orixá do vento, das tempestades e do raio.

A figura de Iansã sempre guarda boa distância das outras personagens femininas centrais do panteão mitológico africano, se aproxima mais dos terrenos consagrados tradicionalmente ao homem, pois está presente tanto nos campos de batalha, onde se resolvem as grandes lutas, como nos caminhos cheios de risco e de aventura - enfim, está sempre longe do lar; Iansã não gosta dos afazeres domésticos.

As características dos filhos de Iansã são conhecidas por seu temperamento explosivo. Está sempre chamando a atenção por ser inquieta e extrovertida. Sempre a sua palavra é que vale e gosta de impor aos outros a sua vontade. Não admite ser contrariada, pouco importando se tem ou não razão, pois não gosta de dialogar. Em estado normal é muito alegre e decidida. Questionada torna-se violenta, partindo para a agressão, com berros, gritos e choro. Tem um prazer enorme em contrariar todo tipo de preconceito. Passa por cima de tudo que está fazendo na vida, quando fica tentada por uma aventura. Em seus gestos demonstra o momento que está passando, não conseguindo disfarçar a alegria ou a tristeza.


YansãNão tem medo de nada. Enfrenta qualquer situação de peito aberto. É leal e objetiva. Sua grande qualidade, a garra, e seu grande defeito, a impensada franqueza, o que lhe prejudica o convívio social.

Iansã é a mulher guerreira que, em vez de ficar no lar, vai à guerra. São assim os filhos de Iansã, que preferem as batalhas grandes e dramáticas ao cotidiano repetitivo.

Costumam ver guerra em tudo, sendo portanto competitivos, agressivos e dados a ataques de cólera. Ao contrário, porém, da busca de certa estratégia militar, que faz parte da maneira de ser dos filhos de Ogum, os filhos de Iansã costumam ser mais individualistas, achando que com a coragem e a disposição para a batalha, vencerão todos os problemas.

São fortemente influenciados pelo arquétipo da deusa aquelas figuras que repentinamente mudam todo o rumo da sua vida por um amor ou por um ideal. Talvez uma súbita conversão religiosa, fazendo com que a pessoa mude completamente de código de valores morais e até de eixo base de sua vida, pode acontecer com os filhos de Iansã num dado momento de sua vida.

Da mesma forma que o filho de Iansã revirou sua vida uma vez de pernas para o ar, poderá novamente chegar à conclusão de que estava enganado e, algum tempo depois, fazer mais uma alteração - tão ou mais radical ainda que a anterior.


OyáSão de Iansã, aquelas pessoas que podem ter um desastroso ataque de cólera no meio de uma festa, num acontecimento social, na casa de um amigo - e, o que é mais desconcertante, momentos após extravasar uma irreprimível felicidade, fazer questão de mostrar, à todos, aspectos particulares de sua vida.

É extremamente sensual, apaixona-se com freqüência e a multiplicidade de parceiros é uma constante na sua ação, raramente ao mesmo tempo, já que Iansã costuma ser íntegra em suas paixões; assim nada nela é medíocre, regular, discreto, suas zangas são terríveis, seus arrependimentos dramáticos, seus triunfos são decisivos em qualquer tema, e não quer saber de mais nada, não sendo dada a picuinhas, pequenas traições. É o Orixá do arrebatamento, da paixão. Irrequieta, autoritária, mas sensual, de temperamento muito forte, dominador e impetuoso.


Os filhos de Iansã são atirados, extrovertidos e chocantemente diretos. Às vezes tentam ser maquiavélicos ou sutis, mas a longo prazo, um filho de Iansã sempre acaba mostrando cabalmente quais seus objetivos e pretensões.

IansãTêm uma tendência a desenvolver vida sexual muito irregular, pontilhada por súbitas paixões, que começam de repente e podem terminar mais inesperadamente ainda. Mostram-se incapazes de perdoar qualquer traição - que não a que ela mesmo faz contra o ser amado. Enfim, seu temperamento sensual e voluptuoso pode levá-las a aventuras amorosas extraconjugais múltiplas e freqüentes, sem reserva nem decência, o que não as impede de continuarem muito ciumentas dos seus maridos, por elas mesmas enganados. Mas quando estão amando verdadeiramente são dedicadas a uma pessoa são extremamente companheiras.

Todas essas características criam uma grande dificuldade de relacionamentos duradouros com os filhos de Iansã. Se por um lado são alegres e expansivos, por outro, podem ser muito violentos quando contrariados; se têm a tendência para a franqueza e para o estilo direto, também não podem ser considerados confiáveis, pois fatos menores provocam reações enormes e, quando possessos, não há ética que segure os filhos de Iansã, dispostos a destruir tudo com seu vento forte e arrasador.

Ao mesmo tempo, costumam ser amigos fiéis para os poucos escolhidos ara seu círculo mais íntimo.

Uma de suas atribuições é colher os seres fora-da-Lei e, com um de seus magnetismos, alterar todo o seu emocional, mental e consciência, para, só então, redirecioná-lo numa outra linha de evolução, que o aquietará e facilitará sua caminhada pela linha reta da evolução.

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domingo, 25 de maio de 2008

Songò, Xangô...


SongòXangô, é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores, razão do que de sobra, para ser denominado, Deus da justiça.

Em sua dançá, o alujá , Xangô brande orgulhosamente seu oxé e assim que a cadência se acelera, ele faz um gesto de quem vai pegar num labá (sua bolsa) imaginário, as pedras de raio, e lançá-las sobre a terra.

Texto: Autor Fernando Oli. Perna
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Orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.
 
 
 
 
É o orixá das pedreiras, das terras áridas e das rochas. Seu elemento é o fogo, dominando também o raio e o trovão. O metal a que pertence é o cobre.

Sua ferramenta principal é o Oxé (machado de dois gumes), simbolizando a imparcialidade na hora da justiça.

Machado_medievalOs filhos de Xangô são extremamente enérgicos, autoritários, gostam de exercer influência nas pessoas e dominar a todos, são líderes por natureza, justos honestos e equilibrados, porém quando contrariados, ficam possuídos de ira violenta e incontrolável.

É muito violento, mas nunca gratuitamente. Quando provocado, castiga seus inimigos sem piedade, sendo implacável nas guerras de conquista, atividade que exerce com maestria. Se for necessário, Xangô usa seus poderes de feitiçaria para destruir o inimigo.


XangôComo grande amante da justiça, é imparcial em suas ações, usando toda sua autoridade para resolver as mais difíceis questões, tarefa que ninguém gosta de fazer. Sempre podemos recorrer a ele quando nos defrontarmos com questões litigiosas ou problemas jurídicos.
Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal.

O administrador da justiça nunca poderia olhar apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo ponto de vista sempre. Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores, sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça por ele aplicada.

Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade. Seu raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial, onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente. Seu Axé, portanto está concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de se quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Orixá. Axé de Xangô são as pedras chamadas “Pedras de Raio”, meteoritos que é a força da natureza.

Tudo que se refere a estudos, as demandas judiciais, ao direito, contratos, documentos trancados, pertencem a Xangô.

Xangô_Xangô também gera o poder da política. É monarca por natureza e chamado pelo termo obá (Rei). No dia-a-dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos, lideranças sindicais, associações, movimentos políticos, nas campanhas e partidos políticos, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.

Xangô é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, à vontade de vencer. Também o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de liderança. Para Xangô, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a pena; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.

Xangô é o Orixá da Justiça e seu campo preferencial de atuação é a razão, despertando nos seres o senso de equilíbrio e eqüidade, já que só conscientizando e despertando para os reais valores da vida a evolução se processa num fluir contínuo.

Texto: ...






sábado, 17 de maio de 2008

Ògún, Ogum...



Ogún data de tempos proto-históricos, é pré-histórico, violento e pioneiro; suas armas são primeiras de pedra, depois o ferro. Sua primogenitura converte-o em quase irmão gêmeo de Exú.

Deus da guerra, imagem arquetípica do soldado, Ogún é também o deus do ferro, da metalurgia. Do ferreiro ao cirurgião, todos os que utilizam instrumentos de ferro (e o aço por conseqüência) em seu trabalho:

Agricultores, caçadores, açougueiro, barbeiros, marceneiros, carpinteiros, escultores e outros que juntaram-se ao grupo desde o início do século, mecânicos e motoristas; rendem homenagem à Ogún. Nesse sentido ele é o arquétipo da conquista da civilização humana, consolidada na idade do ferro. Orixá de personalidade violenta, obstinada, constante, viril, disciplinada, quando não rígida.

Na sua estreita relação, com a natureza humana, na qual é o regente dos "caminhos" no seu sentido de trabalho, oportunidades profissionais, e ao mesmo tempo "guardião" da casa.

O número sete é associado a Ogún e ele, é representado nos lugares que lhe são consagrados, por instrumentos de ferro, em número de sete, catorze ou vinte e um, pendurados numa haste horizontal, também de ferro: lança, espada, enxada, torquês, facão, ponta de flecha e enxó, símbolos de suas atividades.


Sua cor é o azul escuro, é o primeiro a ser saudado depois que Exú é "despachado" (ritual que antecede os Xirés - ocasião festiva, que as casas de candomblé, cantam para todos os orixás - que este tipo de exú, na sua forma negativa de maldoso, funcionando também como uma espécie de guardião do ritual, contra outros tipos de espíritos "não iluminados", não perturbe e não deixe, perturbarem o culto). É sempre Ogún que desfila na frente, "abrindo caminho" para os outros orixás (mais uma vez, a indicação da sua função de abrir caminhos), quando eles entram no Ilê nos dias de festa, manifestados e vestidos com suas roupas simbólicas.

Texto: Autor Fernando Oli. Perna.


Orixá da guerra, das batalhas, dos metais, da agricultura, dos caminhos e da tecnologia.

Depois de Exú é o Ogum que está mais próximo dos homens.
Orixá do fogo e do ferro em que são forjados os instrumentos como espada, a faca, a foice, a enxada, a ferradura, a lança, o martelo, a bigorna, a pá, etc.

Ogum é o dono das estradas de ferro e dos caminhos. Protege também as portas de entrada das casas e templos.

Ogum é protetor dos militares, soldados, ferreiros, trabalhadores e agricultores.


Fundamentos:

Senhor deus da guerra, dono do trabalho porque possui todas as ferramentas como seus símbolos. Dono do ferro e do aço. É dono do obé (faca) e por isso vem logo após o Bará, pois sem as facas que lhe pertencem não seriam possíveis os sacrifícios.
 

Escudo_EspadaOs filhos de Ogum possuem um temperamento um tanto violento, são impulsivos, briguentos e custam a perdoar as ofensas dos outros. Não são muitos exigentes na comida, no vestir, nem tampouco na moradia, com raras exceções. São amigos, camaradas, porém estão sempre envolvidos em demandas; divertidos, despertam interesses nas mulheres, mas não se fixam muito a uma só pessoa até realmente encontrarem seu grande amor.



Os filhos de Ogum são pessoas dinâmicas, honestas, responsáveis, procurando sempre fazer o melhor naquilo que lhe é confiado. Pessoas de gênio forte beirando as raias da violência.

Se envolvem facilmente em brigas e demandas, quando são contrariados.

Têm uma forte influência do "Odu Etaogunda".

Neste caminho de Odu (destino), é que nasceram a faca e todos os objetos de ferro. Por isso, Ogum está muito ligado a Etaogunda. Os filhos deste Odu, ou pessoas que estão sob a sua influência, devem agir sempre em conformidade com a justiça. Caso contrário terão dentro de si mesmo o seu maior inimigo. Este é o Odu da justiça."É o grande desafio do comportamento". Não tolera mentira, sendo implacável nestes casos...

É responsável pelas demandas jurídicas, juntamente com Xangô, pois para Ogum a justiça e a retidão são muito importantes. Ele não atua como o juiz que julga o certo e o errado, mas faz prevalecer o que é considerado certo.

Texto: ...

 
 

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Luzbel e Elégbára, Exú...



A Origem do Mal.

Corte Celestial

Havia na Corte Celestial um anjo chamado Lúcifer, também chamado O Anjo Belo, o primeiro dos Querubins possuidor de grandes conhecimentos, o que o distinguia entre os demais anjos da Corte de Deus.

Sucedeu que estranhos sentimentos de orgulho e vaidade começaram a penetrar no coração do Anjo Belo, levando-o a conspirar contra Deus com o propósito de assumir o trono divino.


Não querendo o Pai Celestial eliminá-lo, decidiu expulsá-lo do Paraíso, juntamente com os seus adeptos. Foi desta maneira que milhões de espíritos rebeldes, comandados pelo Anjo Belo, formaram o seu Reino - O Reino das Trevas.

Texto: José Maria Bittencourt



Para os cristãos, o Diabo foi a criação mais perfeita de Deus. Mas, Lúcifer (a estrela da manhã) ou Luzbel (linda luz) se levantou contra o poder de Deus e arrastou um terço dos anjos que habitavam o céu, os quais iniciaram uma árdua batalha contra o Criador, até conseguir sua expulsão do lado d’Ele.
Suas hostes são muito grandes, suas legiões incalculáveis. Todos eles se servem dos mais baixos instintos humanos e são conhecidos como íncubos (demônios homens) e súcubos (demônios mulheres).
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Exú

Exu afroEle é o "Senhor dos Caminhos"; é quem escuta e atende com cuidado e cautela os nossos pedidos, para levá-los até os Orixás maiores, dos quais é o porta voz. Cumprindo esta importante tarefa, alcança luz espiritual, atendendo às mais prementes necessidades ou carências humanas.
Sua especialidade é "abrir os caminhos" (no que se refere a trabalho, profissão, carreira ou meio de vida). Sem ele não se pode iniciar nada no terreno espiritual, já que ele é o mediador entre os homens e os Orixás.

Exú tem uma psicologia muito profunda e, como está em contato íntimo com os homens, trabalha no nosso mesmo plano astral.
Trata-se de uma energia viril, quase maléfica. Muitas estatuetas africanas, feitas de barro ou de madeira talhada (geralmente em ébano), mostram essa característica; isto é, a energia representa a força reprodutora inata do homem.


Pomba-Gira

Pomba- GiraÉ a versão feminina do Exú, isto é, Exú mulher, e tem as mesmas características do Exú homem, mudando ou variando as características viris por conotações específicas do gênero feminino, já que é delicada, sensual, amante da beleza, etc. Também funcionam como intermediárias entre os Orixás e os Homens.
Alegres, divertidas e munidas de um alto poder de sedução, elas cativam só com a sua presença. Quando baixam à Terra, lançam uma gargalhada estridente e musical, como se fosse um grito de liberdade e alegria.

Texto: by Zolrak


As funções de Exú são muitas, e todas de extrema importância para o equilíbrio do universo, como, por exemplo, estabelecer a comunicação entre nós, seres humanos, e o nosso orixá ou protetor particular.

Todos nós temos um Exú, que é individualizado, com suas formas, ou qualidades, bem definidas.
Todos têm Exú, mesmo aqueles que o tratam como demônio. Sem ele, não existiria vida, evolução, movimento, crescimento, dinamismo; enfim, estaríamos completamente estagnados e sem rumo.
Exú é o guardião de todas as passagens, inclusive entre o céu e a Terra, e das porteiras que existem em nosso mundo.

Exú é um orixá que conhece o íntimo do ser humano porque foi criado do mesmo material que nós. Ele sabe tudo o que nós precisamos para viver, como trabalho, dinheiro, moradia, amor, sexo, etc. Ele está intimamente ligado a nós e ao nosso protetor; por isso, em determinadas situações e problemas, nós podemos recorrer diretamente a Exú, para que ele nos abra as portas e limpe nosso caminho dos obstáculos.

Texto: Web page FIETRECA


Exú, Elégbára é um Orixá de múltiplos e contraditórios aspectos, o que o torna muito difícil de defini-lo de maneira coerente. De caráter irascível, ele gosta de suscitar dissensões e disputas, de provocar acidentes e calamidades públicas e privadas. É astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente. Entretanto, Exú possui o seu lado bom e, se ele é tratado com consideração, reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo. Se, pelo contrário, as pessoas esquecerem de lhe oferecer sacrifícios e oferendas, podem esperar todas as catástrofes.

Exú revela-se, talvez, por essa maneira, ser o mais humano dos Orixás, nem completamente bom, nem completamente ruim.
Exú é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. E também ele serve de intermediário entre os homens e os deuses.

Exú pode fazer coisas extraordinárias como as que se exprimem nos seus oríkì, os louvores tradicionais.



“Exú fez o erro virar acerto e o acerto virar erro.”

“É numa peneira que ele transporta o azeite que ele compra no mercado; e o azeite não escorre dessa estranha vasilha.”

“Ele matou o pássaro ontem, com uma pedra que atirou somente hoje. Se ele se zanga, pisa numa pedra e ela põe-se a sangrar.”

“Aborrecido, ele senta-se na pele de uma formiga.”

“Sentado a sua cabeça bate no teto; de pé, não atinge a altura de um fogareiro.”

Texto: Livro Orixás Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Autor: Pierre Fatumbi Verger. 


 
 
 

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Deus, Olorum e Oxalá...

A criação

Os Iorubás eram capazes de perceber muitas coisas que o nosso planeta está mostrando para nós e que não somos capazes de ver. Eles podiam facilmente observar que o mundo está vivo, que tem movimento, e que tudo nele está relacionado. Eles entendiam as influências entre as coisas, e para eles estava claro que nada escapa a uma inteligência superior, que nós procedemos dela e que algum dia voltaremos a ela.

Eles reconheceram na natureza sua excelente mãe e aprenderam a amá-la e a respeitá-la. Eles sabiam que, sem esse amor e respeito, os erros e falhas aconteceriam no conselho energético geral. Isto provocaria todo o tipo de desastres, não só para a vida neste planeta mas também para toda vida em toda parte, vida que está toda interligada. Em seu pensamento religioso e místico, prevalecia a atitude de que tudo é energia, de que o espírito universal é semelhante a ela e que ela é encontrada em toda parte.

Olorum
O antigo povo Iorubá também tinha uma concepção tripartida, uma idéia que para nós se assemelharia à Santíssima Trindade. Eles acreditavam num princípio universal, intocável, inalcançável, quase impossível de conceber por causa do seu grande poder e presença, abraçando todas as coisas, capaz de fundir todas elas em si mesmo. Chamavam esta energia de Olodumaré, Olorum (o princípio dos princípios) gerado por três partes, essências ou energias isoladas, que recebiam os nomes de Nzame, Baba Nkwa e Olofi.

Este princípio criou o Universo e tudo o que nele existe – mas era necessário haver uma certa forma de existência formada da mesma matéria que governaria o planeta Terra. Tomando essa mesma densidade de energia, eles criaram o primeiro homem e lhe deram liberdade, inteligência e perfeição física. Eles o chamaram de Omo Oba. Orgulhando-se dos seus próprios atributos, o homem perdeu sua luz espiritual e parou de vibrar na mesma intensidade da fonte criadora. A partir desse momento, portanto, ele viveu no interior da Terra.

Orum, o outro mundo, é regido por Olodumaré, também chamado Eleda, Olorum, Odumaré ou Eleemi, criador de tudo. Ele fornece energia para todos os seres vivos, insuflando a força de tudo o que existe e regendo todo o Cosmos desde o Hemisfério Superior.
Ayê, o Mundo das coisas vivas, é ligado a Orum, por algumas vezes receber dos Mundos Eternos e Superior toda sorte de comunicação possível.

by Zolrak.


Oxalufã
Oxalá – Oxalufã e Oxaguiã ou
Adjagunã – o maior de todos os
orixás, tradição religiosa da maior
importância entre os cultos
africanos. Apresenta-se, ora como o
velho Oxalufã, alquebrado, friorento,
trôpego, apoiando ao seu bastão
(paxorô), ora como o novo, o moço
 Oxaguiã, desempenado, altivo, guerreiro, empunhando a espada e um pilão de metal branco de duas bocas. É conhecido como Oulissa dos geges, Cassumbecá em Angola e Ganga-zumba dos Cambindas.


OxaguianSua festa maior, em todas as casas de culto, levam o nome de “As águas de Oxalá” que é o início do ano litúrgico nas tradições culto e cultura dos orixás, esta tradição tem mais de cinco mil anos A.C., revivescência da tradição africana da viagem de Oxalá ao reino de seu filho Xangô. Na África é chamado de Obatalá (Senhor da Roupa Branca).

Aqui entre nós foi chamado de Orixalá (orixá-nlá, orixá maior) e depois, pela forma sincopada de Oxalá. Simboliza “um elemento fundamental do começo dos começos”, massa de água e massa de ar, um dos elementos que deram origem a novas formas de existência – a protoforma e a formação de todos os tipos de criaturas, na terra (ayê) ou no céu (orun).

Os vivos e os mortos, os dois planos da existência, são controlados pelo axé de Orixalá. O alá, grande pano branco, é o seu emblema e embaixo dele é que abriga a vida e a morte. Um dos ritos do círculo litúrgico de Oxalá consiste em estender um longo pano imaculado, sustentado por cima das cabeças dos participantes, que caminham cantando e dançando numa procissão ritual. O gesto simboliza o ato através do qual seus filhos se colocam sob a proteção do grande orixá funfun (orixá branco). Ele está associado à calma, à unidade, ao repouso ao silêncio, à paz, tranqüilidade e amor.

Texto: Mãe Sylvia de Oxalá.


quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sta Sara e Outras Versões...


Vamos voltar há dois mil anos... ou mais, muito mais... Se
quiserem podemos retroagir 5000 anos e chegaremos aos ciganos que ajudaram a construir as pirâmides do Egito.
Porém, fiquemos nos tempos do Cristo.

Estava Jesus em pleno ministério sempre acompanhado por Maria Madalena, aquela que seria a discípula bem-amada. É daquela época que extraímos a mais bela lenda do povo cigano. Mas, antes falaremos de religiosidade dos ciganos, de maneira geral, que é incontestável. Os ciganos crêem em Deus (Devel) e na entidade do mal (Beng). Fazem grandes peregrinações em 24/25 de maio a Saintes-maries-de-la-mer (França), em honra a santa Sara. No Brasil, além de Santa Sara, são devotos de N. Sra. Aparecida, são Jorge e outros santos, isto, se forem católicos. Ressaltamos que os ciganos adotam a religião do país que os acolhe.

No Brasil temos ciganos católicos, evangélicos, testemunhas de Jeová, protestantes, espíritas, adventistas, umbandistas e outras religiões/seitas. No mundo, encontramos ciganos na religião católica ortodoxa, muçulmanos, budistas, hindus etc. e são sinceros na crença que adotam.

São muitas as lendas que dizem ter Maria Madalena viajado à França (ou Gália na época) depois da crucificação de Jesus, acompanhada por um variado grupo de pessoas que inclui uma jovem serva negra chamada Sara, Maria Salomé e Maria Jacobina — supostamente tias de Jesus — além de José de Arimatéia, o rico proprietário do sepulcro onde Jesus foi colocado, antes da ressurreição, e São Maximino, um dos setenta e dois discípulos mais próximos de Jesus e primeiro bispo de Provença. Embora os detalhes da narrativa variem de versão para versão, parece que Madalena e seu séqüito foram obrigados a fugir da Palestina em condições mais que precárias [...]


Reza a lenda que eles desembarcaram (sem dúvida, muito agradecidos, depois de vagarem por águas salgadas durante semanas) no que hoje é a cidade de Saintes-maries-de-la-mer, nas terras úmidas da Camargue, onde o Ródano deságua no Mediterrâneo. As três Marias — Maria Madalena, Maria Jacobina e Maria Salomé — são objeto de grande veneração na igreja que se ergue dos charcos circundantes como uma imponente vela de navio, ao passo que na cripta há um altar dedicado a Sara, a egípcia, a pequena serva negra de Maria Madalena, hoje a venerada santa padroeira dos ciganos, que afluem à cidade no feriado de 24/25 de maio, quando milhares de fiéis devotados conduzem a estátua de Sara até o mar, para sua imersão cerimonial.

O fato de a tradição medieval considerar os ciganos originários do Egito — egypsies — confere sentido à sua veneração pela menina egípcia Sara...
As lendas têm muitas versões, por isso são lendas, ficamos com uma adaptação que seria a seguinte: Maria Madalena era o cálice sagrado (Santo Graal), porque trazia em seu ventre o sangue real, a semente de Jesus. Ela teria passado alguns anos em Alexandria, no Egito e Sara seria sua filha e de Jesus (portanto, Sara não era serva das Marias), constituindo-se na linhagem sagrada. Maria Madalena, por motivo desconhecido (perseguição talvez) fugiu para a Gália com Sara e José de Arimatéia. Lá foram acolhidos pelos ciganos. Sara é venerada pelos ciganos, até porque Madalena, sua mãe, também é conhecida por Madalena Egipcíaca. Isto faz sentido; os ciganos seriam os verdadeiros guardiões da linhagem sagrada através de veneração à santa Sara: a santa das santas.


Curioso é o fato de que a igreja não relaciona santa Sara em sua hagiografia. Por quê? Que nos respondam os que sabem!
Encontramos em um livro, às vezes muito elogiado, outras vezes criticado sem piedade, texto que nos conta algo que até agora desconhecíamos sobre o Mestre Jesus. Está no livro O código da Vinci, de Dan Brown, editora Sextante, 2004. extraímos este diálogo entre os três personagens principais do livro: Langdon, Teabing e Shofie:

O importante aqui — disse Langdon, voltando à estante — é que todos estes livros apóiam a mesma premissa histórica.
— Que Jesus foi pai — Sophie ainda estava insegura.
É — disse Teabing. — E que Maria Madalena foi o ventre que transmitiu sua linhagem sagrada. O Priorado de Sião, até hoje, ainda venera Maria Madalena como a Deusa, o Santo Graal, a Rosa e a Divina Mãe.
Sophie voltou a visualizar rapidamente o ritual do porão.
De acordo com o Priorado — continuou Teabing — , Maria Madalena estava grávida quando Jesus foi crucificado. Para segurança do filho ainda não nascido de Cristo, ela não teve escolha senão fugir da Terra Santa. Com ajuda do tio em que Jesus tinha grande confiança, José de Arimatéia, Maria Madalena secretamente viajou para a França, que na época era conhecida como Gália. Ali encontrou refúgio seguro na comunidade judaica. Foi na França que deu à luz uma filha. O nome dela era Sara....

Notamos pois muitas semelhanças entre as lendas, ora Sara nasceu no Egito, ora na França, ora foi acompanhante das Marias. Então não vamos discutir mais: Sara existiu e foi o fruto da união de Jesus e Madalena. Os ciganos, não só são muito religiosos, como também são a fonte de inspiração para os poetas, e eles têm Deus no coração e só eles podem expressar tanta religiosidade.




E JESUS FOI MAIOR DOS CIGANOS.

jesus_pastorTemos por certo que Jesus foi o maior dos ciganos. Afinal era um pobre galileu sem eira nem beira, andava descalço, como os ciganos, não tinha casa, como os ciganos, não tinha terra, como os ciganos, nem se agarrava aos valores materiais, como os zíngaros não se agarram. O quê fez Jesus dos treze aos trinta anos?

Viajou à Índia para aprender com os budistas. E quê fez dos trinta e um aos trinta e três?

 Perambulou pela Palestina, pregando a boa-nova, fazendo milagres e dormindo ao relento. Foi Ele quem disse:

“As raposas têm covas e as aves ninhos, porém, o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.” (Mt 8,20). Foi o papa Paulo VI que relembrou esta passagem bíblica citando-a perante 2.500 ciganos e complementando:
“Vede como Jesus era semelhante a vós. Como está próximo de vós!” E ainda na Bíblia lemos:

“Eu tive fome e me deste o que comer, eu tive sede e me deste de beber”. Eu gostaria de saber quais os cristãos que deram de ‘comer’ e ‘beber’ a um cigano!? Que Jesus era nômade não padece dúvida, pois está em várias passagens da Bíblia. Vejam esta:

 “Jesus percorria toda Galiléia, ensinando nas sinagogas o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e enfermidades entre o povo... Grande multidão o acompanhava da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e dos países do outro lado do rio Jordão” (Mt 4-25). [....] “E andava por todas as cidades e aldeias” (Mt 9-35). Ele usava apenas uma túnica e que foi sorteada entre os soldados no Gólgota. Tão pobre como a maioria dos ciganos no mundo.

Jesus, Maria Madalena e Sara foram o maior legado dos ciganos à humanidade.

Há uma versão creditada a Jean-Paul Clébert, em seu livro The gypsies, p. 141, que aborda a existência de outra Sara: Sara the Kâli. E diz assim:

A Sara dos ciganos por outro lado, vivia às margens do Ródano com sua tribo e saudou as três Marias quando elas desembarcaram. Nosso povo recebeu a primeira Revelação de Sara a Kâli. Ela era de nobre nascimento e chefe da tribo às margens do Ródano. Ela sabia dos segredos que a ela tinham sido transmitidos. Perto do Ródano as tribos trabalhavam metais e comerciavam. O Cigano naquele tempo praticava religião politeísta e uma vez ao ano eles levavam em seus ombros a estátua de Astarté [divindade sideral feminina] em procissão ao mar onde recebiam suas benções. Um dia, Sara vira a chegada do bote com as Marias. O mar estava revolto e o bote ameaça afundar. Sara jogou seu vestido nas ondas, e usando-o como uma jangada, foi às santas e ajudou-as a ir à terra.

As santas batizaram Sara e elevaram suas preces pedindo pelos gadjês e pelos rom.
A veneração dos ciganos por Sara é extremamente interessante, especialmente porque é uma das poucas atividades deles, nas quais o não-cigano pode facilmente estar presente. Depois de 1912, somente os ciganos tinham o direito de penetrar na cripta. Eles passavam a noite lá, e faziam vigília, para não falhar com o mistério, particularmente aos olhos do santo padre que no ano estava presente. É sabido que a cripta, usualmente inundada com água de nascente, dá guarida a três elementos: à esquerda de quem entra, há o altar, (um altar pagão); no centro, há o altar cristão (do séc. III); e à direita há a estátua (ícone) de Santa Sara. É muito antiga. A estátua atual foi obviamente pintada de preto. Se limpidez aparece em sua face é porque é continuamente tocada e retocada.

Durante a vigília, os ciganos não mais praticam ritos especiais. Eles se satisfazem em manter observação, usualmente descalços e cabeça descoberta. Alguns deles cochilam ou dormem ao longo das paredes. Aqueles que chegam, devotos de Sara, fazem o ritual em dois atos: o toque e ornando-a com flores, pondo-lhe rendas, véus, jóias talismãs; pendurando roupas ou trajes (capas, mantos, lenços etc.). As mulheres particularmente, respeitosamente tocam a estátua e beijam as franjas dos seus vestidos. Então dependuram ao lado dela, roupas que trouxeram desde mantilhas de seda, corpetes, bustiê etc. Algumas vezes, somente pedaços de pano. Finalmente, eles tocam a santa com uma miscelânea de objetos representando os ausentes ou doentes (fotos, medalhas... ou ainda itens de roupas). E acendem velas, círios, produzindo intensa luz e calor.

velasA segunda parte da peregrinação cigana consiste na procissão ao mar e simbólica imersão, comum a todos os cultos da grande deusa da fecundidade. A magia da imersão induz a chuva. Claramente, obter chuva é menos importante para os nômades do que para os sedentários e casados. É evidente que a simbólica imersão de Saintes-maries-de-la-mer não mais pretende fazer chover. O ritual da fecundidade tornou-se uma bênção do mar por uma sutil adaptação da igreja. Os ciganos seguem esta transformação. Mas nesta evolução, eles conservaram o arquétipo da deusa-mãe e da virgem negra.

Do mundo inteiro vêm turistas e ciganos à cripta de Sara. A festa, como toda festa de origem católica, é religiosa e profana.

Há procissões, há orações e muita música, pelotiqueiros, buena-dicha, comidas típicas, danças, na parte profana propriamente dita. Mas vamos ver um pouco de história que é essencial para a famosa peregrinação a Saintes-Maries-de-la Mer. Dias 24 e 25 de maio, todos os anos os ciganos tornaram-se costumeiros na peregrinação católica. Realmente, há uma igreja erigida em comemoração à chegada das três marias, depois de o rei René[1] ter ordenado uma investigação sobre o assunto.

Velhíssima tradição registra o tal desembarque das três marias, mas não há certeza em qual lugar desceram a terra: o lugar já mencionado, com o qual estamos lidando, foi sucessivamente chamado Nossa Senhora de Ratis, de três marias, e Sainte-Marie-de-la-Barque; ratis poderia significar ‘ilha de madeira’. A escavação ordenada pelo rei René foi bem sucedida, debaixo do coro da igreja primitiva (a data em que ela foi construída é desconhecida) foram encontradas as supostas relíquias das santas. E a peregrinação tem sido registrada desde o século XV e cada vez mais florescente. A aparição de Sara se deu um pouco mais tarde e no texto Autor do fim da vida de M. Olier encontra-se esta frase: ‘Em uma arca de bronze foram depois encontradas... ossadas humanas que se acreditou ser de Sara, acompanhante das sagradas marias.’ Em 1521, Vicente Phillipon, em sua piedosa novela A lenda das santas Marias Jacobé e Salomé, registra a presença de Sara, minimizando seu papel dizendo ser apenas a serva. Ela viajara através de Camargue pedindo donativos. Dia 24 de maio foi escolhido para honrar as santas, e ciganos (presentes em Arles desde 1438) juntaram-se aos peregrinos. Mas de início não a reconheceram como Sara-a Kâli. Isto só se deu em 1496. A idéia de serva das marias foi uma idéia ecumênica. O nome dado pelos ciganos a Sara — A Kâli — significa na linguagem dos rom ora ‘mulher negra’, ora mulher cigana. Sara, na igreja pode ser a mulher de Abraão que traz em si a idéia da mãe-deusa, bem como pode ser Sari do Cáucaso, o mesmo povo que deu o nome bíblico de Sara.

Se Santa Sara veio no barco com as três Marias, se estava na praia esperando por elas e as salvando, se era serva de Madalena, ou segundo outros, era sua filha e de Jesus. Também se Sara relembra a mulher de Abrão ou uma egipcíaca; tudo isto, esta confusão de lendas, só atrai mais e mais fiéis e admiradores e à festa em Saintes-Maries-de-la-mer, que só cresce ano a ano. Ciganos de toda Europa (e do Brasil) vão anualmente à Camargue, França, à igreja das santas mencionadas, para celebrar a festa de sua rainha. A cripta e a santa, no dia da festa são clarificadas por milhares de velas, acendidas pelos nômades, e postas por eles ou por eles carregadas. O calor é intenso e a alegria também. A música é maravilhosa. A procissão em direção ao mar é festiva e religiosa. Eles chamam a cripta de o ventre da mãe Sara, e a chamam de Kâli-Sara, em analogia à deusa-mãe da sua terra natal, a Índia. Sara, é conhecida como a mãe sábia, que guarda conhecimentos secretos. As mulheres ciganas têm especial encantamento por Sara e parecem receber retribuição por isto, muitas bênçãos são atestadas. Sara está coroada e vestida com todos os atavios que os ciganos e ciganas lhes oferecem, e são tantos, que são constantemente trocados: jóias, lenços, mantos, véus e muito mais.

Os devotos acariciam sua face, beijam a fímbria dos seus vestidos e colocam flores em sua volta. Cartas postas a sua volta atestam os milagres recebidos, muletas de criança encontram-se ao lado da rocha.

Quando o culto a Santa Sara veio para o Brasil, ainda é matéria controversa. Quem trouxe? É mais controverso ainda... Entretanto, podemos afirmar, sem medo de errar, que é da década de 60. Mirian Stanescon (princesa dos ciganos, assim ela se diz), conseguiu, após negociação pertinaz, com a Prefeitura do Rio de Janeiro, a concessão de uma gruta, no Arpoador, Rio de Janeiro, onde pôde entronizar ou fazer assentamento, para culto reverencial (de ciganos e gadjês), sendo que a imagem de Santa Sara, por tradição, deve ficar com a face virada para o mar ou, no mínimo, próximo a ele, e isto foi atendido.
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[1] (Renato) I O Bom (Angers 1409-Aix-em-Provence 1480). Duque de Anjou, conde de Provence, duque efetivo de Bar, duque de Lorena, rei de Nápoles, titular da Sicília, rei nominal de Jerusalem.

Texto: Assede Paiva.