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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Egun, Babá-Egun, Apaaraká ...


EGUNGUN - "As roupas que andam ..."

Egun é a morte que volta a terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado isan, que quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida" e o Egungun ancestral individualizado está de novo "vivo".

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos Orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente — característica de Egun, chamada de “séégí ou sé” e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.

As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egun está entre os vivos e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egun.

A roupa do Egun — chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia ou o Egungun propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o isan para controlar a "morte", ali representada pelos Eguns. “Eles e a assistência não devem tocar-se, pois como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egun se tornará um assombrado" e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou talvez a própria morte.

Ora, o Egun é a materialização da morte sob as tiras de pano e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes — como os Ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns — desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo isan.

Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egun (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos.

Os Apaaraká são Eguns, ainda mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parece um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo.

O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá e da qual caem várias tiras de pano coloridas, formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas e pernas que acabam igualmente em sapatos, do qual também caem muitas tiras de pano da altura do tórax ; o banté, que é uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá.

O banté, que foi previamente preparado e impregnado de asé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele o sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o asé e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-Egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá máscaras esculpidas em madeira chamadas de erê egungun ; outros, entre os alabá e o kafó, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e às vezes, o isan. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.

Existem várias qualificações de Egun, como Babá e Apaaraká, conforme seus ritos e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.

 

 O RITO

Nas festas de Egungun em Itaparica, o salão público não tem janelas e logo após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo.

Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários amuisan (iniciados que portam o isan) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos Ojé saiam do espaço delimitado e invadam as redondezas não protegidas.

Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto; mas separada do grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia e igbo igbalé (bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os Ojé podem entrar e o lêsànyin ou balé, onde só os Ojé agbá entram.

Balé é o local onde estão os idi-egungun, os assentamentos - estes são elementos litúrgicos que associados, individualizam e identificam o Egun ali cultuado e oojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários isan, os quais de pé, delimitam o local.

Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egun, a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da divindade Oyána qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios Eguns.

No balé os Ojé atokun vão invocar o Egun escolhido diretamente no seu assentamento e é neste local que o awo (segredo) - o poder e o asé de Egun — nascem através do conjunto Ojé-isan / idi-ojubô. A roupa é preenchida e Egun se torna visível aos olhos humanos.
 

Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuisan até a porta secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos Ojé, pelo som dos amuisan, branindo os isan pelo chão e aos gritos de saudação e repiques dos tambores dosalabê (tocadores e cantadores de Egun). O clima é realmente perfeito.

 

O SALÃO E A FESTA

O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabês e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia de outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.

Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas mulheres que são exceção, como se fossem a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto dos Orisás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de Egun — estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar para os Babás. Antes de iniciar os rituais para Egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos Orisás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como “elo de ligação” entre os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babás, seu jeito e suas manias e sabem como agradá-los.
 
Este espaço sagrado é o mundo do Egun nos momentos de encontro com seus descendentes. A assistência está separada deste mundo pelos isan que os amuisan colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do isan que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o controla. Às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egun com o isan no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o Ojé que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito.

O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam mulheres e crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cânticos preferidos, porque cada Egun em vida pertencia a um determinado Orisá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio Orisá e esta característica é mantida pelo Egun. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Sangò, quando morto e vindo como Egun, ele terá em suas vestes as características de Sangò, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um osè (machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o ritmo preferido de Sangò, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e excitantemente marcadas pelos oiê femininos, que também responderão aos cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.

Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um possível yorubá arcaico e seu atokun funcionara como tradutor. Babá-Egun começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o papel de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral e a disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.

Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egun parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
 

Esta é uma breve descrição de Egungun, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada; mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades na Ilha de Itaparica, localizado no Alto da Bela Vista em Ponta de Areia, no estado da Bahia. Ilê Babá Agboulá mais conhecido como Ilê Agboulá ou Omo Ilê Agbôula, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos yorubanos da Nigéria.
 
Texto: ...


LINKS:

Culto aos Egunguns -  Ilê Agboulá  ( Parte 1)
https://www.youtube.com/watch?v=moas7ElL6do

Culto aos Egunguns -  Ilê Agboulá   (Parte 2)
https://www.youtube.com/watch?v=Rvc2NkK3vdQ

Culto aos Egunguns -  Ilê Agboulá   (Parte 3)
https://www.youtube.com/watch?v=1OwvPGk36eI




Egun Girando

   





      
Eguns Levitando 







Egungun  Inflando

  

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Escravidão, Religião e Sincretismo

 

No início do século XV, período da coloniza-ção  brasi- leira, mais de quatro milhões de negros africanos cruzaram o Atlântico para tornarem-se escravos na colônia portuguesa. Oriundos de diferentes regiões da África, entravam no país, através de navios negreiros, principalmente pelos portos do Rio de Janeiro, de Salvador, do Recife e de São Luís do Maranhão, trazendo na bagagem a cultura africana. 
 
 
  
Para evitar que houvesse rebeliões, os senhores brancos agrupavam os escravos em senzalas, sempre evitando juntar os originários de mesma nação. Por esse motivo, houve uma mistura de povos e costumes, que foram concentrados de forma diferente nos diversos estados do país.

Os escravos possuíam suas próprias danças, cantos, santos e festas religiosas. Aos poucos, eles foram misturando os ritos católicos presentes com os elementos dos cultos africanos, na tentativa de resgatar a atmosfera mística da pátria distante. 

 

O contato direto com a natureza fazia com que atribuíssem todos os tipos de poder a ela e que ligassem seus deuses aos elementos nela presentes . Diversas divindades africanas foram tomando força na terra dos brasileiros.
 
O fetiche, marca registrada de muitos cultos praticados na época, associado à luta dos negros pela libertação e sobrevivência, à formação dos quilombos e à toda a realidade da época acabaram impulsionando a formação de religiões muito praticadas atualmente; o Candomblé e a Umbanda.


Candomblé

É a religião que mais conservou as fontes do panteão africano, servindo como base para o assentamento das divindades que regeriam os aspectos religiosos da Umbanda. É conhecido e praticado, não só no Brasil, como também em outras partes da América Latina onde ocorreu a escravidão negra; a Santería cubana é famosa. Em seu culto, para cada Orixá há um toque, um tipo de canto, um ritmo, uma dança, um modo de oferenda, uma forma de incorporação, um local próprio e uma saudação diferente. As reuniões são realizadas em barracões rústicos e erguidos de acordo com certos preceitos: o feitio do barracão é retangular, com telhado coberto de palmas e ao seu redor são construídas casinholas para assentos dos santos.
 
Os deuses do Candomblé têm origem nos ancestrais africanos divinizados há mais de 5000 anos. Muitos acreditam que esses deuses eram capazes de manipular as forças naturais, por isso, cada orixá tem sua personalidade relacionada a um elemento da natureza.
   

As cerimônias são realizadas com cânticos, em geral, em língua nagô ou yorubá. Os cânticos em português são em menor número e refletem o linguajar do povo. Há sacrifícios de animais (galo, bode, pomba) ao som de cânticos e danças. A percussão dos atabaques constitui a base da música. O despacho exige azeite de dendê, farofa, cachaça e outras oferendas, variando conforme a necessidade.
 


Os filhos de santo são os sacerdotes dos orixás e nem todos são preparados para receber os santos. Existem os que sacrificam animais, os que cuidam dos guias quando os espíritos baixam e ainda os que tocam o atabaque e os que preparam a comida a ser oferecida.
 


A iniciação se dá através da indicação do orixá, que atribui diferentes rituais que devem ser cumpridos de acordo com as seguintes restrições: abstinência sexual, vestimenta branca, uso de cordão no pescoço, comer com as mãos e sentar só no chão.
 

No Brasil, existem diferentes tipos de Candomblé, o keto, na Bahia; o Xangô, em Pernambuco; o Batuque, no Rio Grande do Sul e o Angola, em São Paulo e Rio de Janeiro. Eles se diferenciam pela maneira de tocar os atabaques, pela língua do culto, e pelo nome dos orixás. A zona de maior propagação dessa religião encontra-se nos arredores de Salvador, Bahia.

 
 
Umbanda

Uma das religiões mais praticadas no Brasil, com maior propagação na Bahia e no Rio de Janeiro, a Umbanda brasileira começou a ser formada por volta de 1530, com a mistura de concepções religiosas trazidas pelos negros da África, na época da escravidão. O primeiro terreiro foi fundado em 1908 através de Zélio Fernandino de Moraes. Na época com 17 anos, Zélio, que fazia parte de uma família tradicional de Niterói, RJ, incorporava o chamado Caboclo das Sete Encruzilhadas e foi o responsável pela formação de sete tendas que acabaram difundindo a Umbanda. Todas as tendas funcionavam sob o lema: "manifestação do espírito para a caridade" e usavam rituais simples com cânticos baixos e harmoniosos.
  
A Umbanda incorpora os adeptos dos deuses africanos como caboclos, pretos velhos, crianças, boiadeiros, marinheiros, eguns, exus e outras entidades desencarnadas na Terra, sincretizando geralmente as religiões católica e espírita.

O chefe da casa é conhecido como Pai de Santo e seus filiados são os filhos ou filhas de santo. O Pai de Santo principia a cerimônia com o encruzamento e a defumação dos presentes e do local. Seguem-se os pontos, cânticos sagrados para formar a corrente e fazer baixar o santo.
 
Muitos são os orixás invocados na cerimônia de Umbanda, entre eles Ogun, Oxóssi, Iemanjá, Exu, entre outros. Também invocam-se pretos velhos, índios, caboclos, ciganos...
 

A Umbanda absorveu das religiões africanas o culto aos Orixás e o adaptou à nossa sociedade pluralista, aberta e moderna, pois só assim um culto ancestral poderia renovar-se no meio humano, sem que a identidade básica dos seus deuses fosse perdida.
 ...
 


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

A Lenda da Riqueza de Obará



Eram dezesseis irmãos, Okaram, Megioko, Etaogunda, Yorossum, Oxé, Odí, Edjioenile, Ossá, Ofum, Owarin, Edjilaxebora, Ogilaban, Iká, Obetagunda, Alafia e Obará. Entre todos Obará era o mais pobre, vivendo em uma casinha de palha no meio da floresta, com sua vida humilde e simples.
Um dia os irmãos foram fazer a visita anual ao babalaô para fazer suas consultas, e prontamente o babalaô perguntou:

- Onde está o irmão mais pobre?

Os outros irmãos disseram-lhe que havia se adoentado e não poderia comparecer, mas na verdade eles tinham vergonha do irmão pobre. Como era de costume o babalaô presenteou a cada irmão com uma lembrança, simples, mas de coração e após a consulta foram todos a caminho de casa. Enquanto caminhavam, maldiziam o presente dado pelo babalaô. Morangas? Isso é presente que se dê? Abóboras?
A noite se aproximava e a casa de Obará estava perto, resolveram então passar a noite lá. Chegando a casa do irmão, todos entraram e foram muito bem recebidos, Obará pediu a esposa que preparasse comida e bebida a todos e acabaram com tudo o que havia para comer na casa. O dia raiando os irmãos foram embora sem agradecer, mas antes lhe deixaram as abóboras como presente, pois se negavam a come-las.

Na hora do almoço, a esposa de Obará lhe disse que não havia mais nada o que comer, apenas as abóboras que não estavam boas, mas Obará pediu-lhe que as fizesse assim mesmo.


Quando abriram as abóboras, dentro delas haviam várias riquezas em ouro e pedras preciosas e Obará prosperou.

Tempos depois, os irmãos de Obará passavam por tempos de miséria e foram ao Babalaô para tentar resolver a situação, ao chegar lá escutaram a multidão saldando um príncipe em seu cavalo branco e muitos servos em sua comitiva entrando na cidade, quando olharam para o príncipe perceberam que era seu irmão Obará e perguntaram ao Babalaô como poderia ser possível e ele respondeu:
- Lembram-se das abóboras que vos dei, dentro haviam riquezas em pedras e ouro; mas a vaidade e orgulho não vos deixaram ver e hoje quem era o mais pobre tornou-se o mais rico.
Foram então os irmãos ao palácio de Obará para tentar recuperar as abóboras e lá chegando, disseram a Obará que lhes devolvessem as Abóboras e Obará assim o fez, mas antes esvaziou todas e disse:

- Eis aqui meus irmãos, as abóboras que me deram para comer, agora são vocês que as comerão.

E quando o babalaô em visita ao palácio de Obará, lhe disse:

- "Enquanto não revelares o que tens, tu sempre terás."

E foi assim que se explica o motivo que quem carrega este Odú não pode revelar o que tem pois corre o risco de perder tudo, como os irmãos de Obará.




Texto: Autor desconhecido. 

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

GLOSSÁRIO - Iorubá



A

 

Abó = Liquido sagrado feito com ervas e ingredientes secretos, destinado a curas, banhos de purificação e cruzamentos de guias contra Kiumbas e banir todo tipo de vibrações perturbadoras.

 

Ade = Termo designado em especial os efeminados (nos candomblés) e genericamente; os homossexuais masculinos.

 

Abiã = Novato. Indivíduo que ainda não passou pela cerimônia de iniciação, propriamente dita; mas que já "deu" (realizou) o bori pré-iniciático.

 

Agibonã = Mãe criadeira, supervisiona e ajuda na iniciação.

 

Axogun = Ogã responsável pelo sacrifício dos animais. (não entram em transe).

 

Alagbê = Responsável pelos atabaques e pelos toques. (não entram em transe).

 

Adjá = Sineta ritual, com uma, duas, ou mais campânulas.

 

Amaci = Banho ritual, feito de ervas.

 

Ariaxé = Ponto central do barracão do terreiro, onde se encontram enterrados os "fundamentos" (folhas, pedras, objetos e símbolos mágicos).

 

Axé = Energia vital, sagrada, do orixá. Força espiritual. A força que está nos elementos da natureza, como animais, plantas, sementes e outros.

 

Agô = Permissão ou licença.

 

Ajeum = Comida oferecida.

 

Ayê = Terra.

 

Alá = Pano branco.

 

 

 

B

 

Babalawô = Pai do segredo. Sacerdote culto especialista em artes divinatórias. Homem sábio religioso dedicado a Mesa Ifá. 

 

Babá = Pai.

 

Babalorixá = Pai-de-santo.

 

Babakekerê = Pai pequeno, segundo sacerdote.

 

Balé = Espírito de morto; egun.

 

Barco = Conjunto de pessoas iniciadas no mesmo dia, pelo mesmo pai-de-santo, na mesma casa.

 

Bolar no santo = Forma preliminar e desordenada de transe que precede a iniciação.

 

Bori = Ritual de "dar comida à cabeça", realizado antes da iniciação e também quando é necessário fortalecê-la por alguma razão.

 

Brajá = Colar de contas feito de vários fios, truncado a certos intervalos conforme a numerologia dos orixás. É usado apenas por ebomis e símbolo de prestígio no candomblé. Também é chamado de elekê.

 

 

 

D

 

Decá = Espécie de autorização que legitima a senioridade, podendo o iniciado, a partir do seu recebimento, considerar-se um pai ou mãe-de-santo, estando apto a iniciar novos adeptos.

 

Dijina = Verdadeiro nome de um Orixá, mais exato do que seu nome exotérico.

 

 

 

E

 

Ewá = Orixá do Rio Ewá.

 

Exu = Orixá guardião dos templos, casas, cidades e das pessoas, mensageiro.

 

Egbomi = Pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (significado: meu irmão mais velho).

 

Ekede ou Ajoiê = Camareira do Orixá (não entram em transe).

 

Egungun = Ancestral cultuado após a morte em casas separadas dos Orixás.

 

Egun = Morto; balé.

 

Ebó = Descarrego de más influências; limpeza espiritual.

 

Ebomi = Título de senioridade que se dá a quem já tenha dado a "obrigação" de sete anos.

 

Erê = Criança.

 

Ejé = Sangue.

 

 

 

F

 

Funfun = Branco.

 

Ferramentas = Insígnias que os orixás trazem nas mãos como símbolo de sua identidade mítica.

 

 

 

I

 

Iyá = Mãe.

 

Iyálorixá = Mae-de-santo. 

 

Ibá = Representação material do orixá da pessoa. Contem os otás (pedras onde é "fixado" o orixá) e os ferros que os representam. O assentamento também contém as insígnias principais dos orixás, moedas, búzios e os utensílios utilizados.

 

Ilá = Grito característico e identificador de cada orixá, sendo único para cada um.

 

Ilê = Casa, terreiro.

 

Iabá = Orixá feminino.

 

Iatebexê = Cargo feminino, geralmente dado a uma ekede, que tem como função cantar para os orixás, no barracão ou fora dele.

 

Iyakekerê = Mãe pequena, segunda sacerdotisa.

 

Iyalaxé = Cuida dos objetos ritual.

 

Iyabassê = Responsável pela preparação das comidas-de-santo.

 

Iaô = Filho-de-santo (que já incorpora Orixás).

 

Ifá ou Orunmila-Ifa = Ifá é o porta-voz de Orunmila. Orixá da Adivinhação e do destino.

 

Ifé = Cidade nigeriana e centro religioso dos Iorubás.

 

Ikú = Morte.

 

Iansã ou Oyá = Orixá dos ventos, relâmpagos, tempestade e do Rio Niger.

 

Iemanjá = Orixá dos mares e fertilidade.

 

Irôco = Orixá da árvore sagrada, (gameleira branca no Brasil).

 

Iná = Fogo, luz.

 

 

K

 

kelê = Colar que se amarra ao pescoço do iaô durante a iniciação e que permanece assim por três meses, conhecidos como período de kelê.

 

Kiumbas = Espíritos perturbadores de pessoas mortas que foram más durante a vida, tais como assassinos, estupradores, impostores, etc. Com séria intenção de fazer o mal.

 

 

 

L

 

Logunedé = Orixá jovem da caça e da pesca.

 

 

 

M

 

Màrìwò = As folhas desfiadas do dendezeiro que guarnecem as entradas de uma casa-de-santo contra os egún.

 

 

 

N

 

Nação = Rito religioso identificado às práticas das etnias de origem africana que foram trazidas ao Brasil.

 

Nanã = Orixá dos pântanos e morte.

 

 

 

O

 

Obrigação = nome que se dá às confirmações da iniciação (de dois em dois anos, existindo obrigação de 1,3,5,7 anos e, depois, quando se tiver condições de dar).

 

Omi = água.

 

Omó = filho.

 

Opelê ifá = Instrumento oracular do babalaô. Um tipo de corrente com oito metades de caroço de dendê, que jogados aleatoriamente resulta configurações em número de dezesseis e que em dois lances fornece 256 configurações chamadas odus. (PRANDI, 1991).

 

Ori = Cabeça, manteiga vegetal.

 

Obí = Noz de cola. Fruto de uma palmeira africana.

 

Orô = Cerimônia.

 

Olo = Senhor.

 

Orun = Céu.

 

Odú = Destino.

 

Odé = Caçador.

 

Ogâ = Responsável pelos atabaques e pelos toques (não entram em transe).

 

Ogum = Orixá do ferro, guerra, fogo, e tecnologia.

 

Oxóssi = Orixá da caça e da fartura.

 

Obaluayê = Orixá das doenças epidérmicas e pragas.

 

Oxumaré = Orixá da chuva e do arco-íris.

 

Ossaim = Orixá das folhas, os remédios. Conhece o segredo de todas as folhas.

 

Oxum = Orixá dos rios, do ouro e amor.

 

Obá = Orixá feminino do Rio Oba. Rei.

 

Olorun = Deus supremo.

 

Oxalá = Orixá maior.

 

Oyo = Cidade do povo Yorubá.

 

Ojé = Sacerdote do culto de Egun ou Egungun.

 

Obe = Faca.

 

Odara = Bem, ser/estar bem.

 

 

 

P

 

Peji = Quarto onde ficam as representações materiais dos orixás, chamadas de ibás.

 

Pupa = Vermelho.

 

 

 

Q

 

Quizila = Tabu, implicância, interdição, indisposição em relação a algo ou alguém, conjunto de proibições.

 

 

 

R

 

Roda de santo = Círculo formado em ordem hierárquica para a dança no barracão e que o faz no sentido anti-horário.

 

Roncó = Clausura. Espaço reservado ao recolhimento dos iniciados.

 

Rum = O maior dos três atabaques; dança principal dos orixás; a saída, na iniciação, em que o orixá veste, pela primeira vez, suas roupas rituais e usa suas ferramentas.

 

 

 

S

 

Saída = Festa em que o iaô, após o período de recolhimento para a iniciação, sai pela primeira vez, apresentando-se publicamente à comunidade do povo-de-santo.

 

 

 

V

 

Virar no santo = Entrar em transe.

 

 

 

W

 

Wáji = Nome litúrgico do anil.

 

 

 

X

 

Xangô = Orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.

 

Xirê = Ordem sequencial de cantigas para o orixá, cantada durante a festa; em iorubá significa dançar, brincar.